Um projeto de extensão da Unidade Universitária de Campos Belos da Universidade Estadual de Goiás (UEG) tem mobilizado a comunidade escolar do território Kalunga para discutir o Currículo Pluricultural Griô — proposta que valoriza os conhecimentos ancestrais da população afro-brasileira. A iniciativa tem como referência a educadora e gestora cultural Líllian Pacheco, idealizadora do Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô, da Escola de Formação na Pedagogia Griô e do Programa Ação Griô Nacional.
Com o título “Desenvolvendo o Currículo Pluricultural Griô na escola Kalunga”, o projeto, que conta com apoio da Secretaria Municipal de Educação e da coordenação e da direção das escolas municipais do território, busca fortalecer o diálogo entre saberes locais e conhecimentos universais. No âmbito da ação, foi realizada em 22 de agosto, a palestra “Conexões entre currículo escolar e saberes populares Kalunga”, ministrada pelo prof. Dr. Rosolindo Neto e pela mestra Bia Kalunga.
Na ocasião, Bia relembrou sua trajetória de aprendizado e destacou a tradição da curraleira — expressão musical em rima típica da comunidade. Segundo ela, o Currículo Griô não é um documento, mas "um processo pedagógico no qual os saberes ancestrais são compartilhados na comunidade e na escola, fortalecendo a identidade do povo”.
Já o professor Rosolindo destacou aspectos do chamado currículo oculto. Ele relatou uma experiência de sua pesquisa de mestrado ao ouvir dona Procópia, de 92 anos - laureada com o título de Doutora Honoris Causa pela UEG em 2022 -, e referência na comunidade: “Ela me falou sobre o dia que Caim matou Abel, um dia que todos temem em falar”. Para o educador, trata-se de “conteúdos inconfessáveis da cultura Kalunga” que também precisam ser compreendidos no processo pedagógico.
O projeto segue até dezembro de 2025, com atividades previstas para as escolas Kalunga Municipais Barra, Areia e Sucuri nos meses de setembro, outubro e novembro. O próximo encontro terá como expositores a senhora Teodora F. de Castro Moreira e o senhor Valdeni Rodrigues da Conceição, Griôs das comunidades Faina e Tinguizal.
A expectativa é ampliar o diálogo entre comunidade e escola, promovendo práticas que preservem e valorizem as expressões culturais locais. Para gestores, professores e coordenadores pedagógicos, os encontros representam também uma oportunidade de refletir sobre o papel dos saberes tradicionais no cotidiano escolar.
(Comunicação Setorial|UEG)