Dia 10 de fevereiro de 2023. Data em que a história e a natureza, no ósculo perfeito, fizeram brotar à vida Procópia dos Santos Rosa, a matriarca kalunga do Riachão, comunidade quilombola a 400 km de Brasília, capital federal.

 Essa importante líder do movimento negro – uma das fundadoras da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilomboas, CONAQ – teve sua história e luta reconhecida pela Universidade Estadual de Goiás que lhe concedeu a maior honraria de uma universidade: o título de Dra. Honoris Causa, homenagem esta que aconteceu no último dia 7 de dezembro de 2022 e levou para a “porta da sua casa” toda a estrutura da UEG e dezenas de lideranças e autoridades de todo o País para lhe render a merecida sagração acadêmica.

 A aniversariante desta data é símbolo e corpo de luta em defesa do Meio Ambiente, dos Direitos Humanos e de combate ao racismo, e mesmo da educação do povo quilombola. Entre seus legados, a matriarca é uma das lideranças responsáveis por conquistar ao território kalunga as primeiras escolas públicas, fator este que mudou significativamente a realidade das novas gerações destes descendentes do povo africano escravizado. Por meio de suas mobilizações e inspirações, juntamente com centenas de lideranças do movimento quilombola do Brasil, estimulou a que as universidades públicas pudessem abrir espaço por meio de cotas específicas ao povo quilombola de forma a que o poder público, suas instituições e agentes, compreendessem a emergência de uma política de equidade não como um favor, entretanto, como reparação histórica aos ancestrais escravizados.

 É também por lutas como a de Iaiá Procópia que empresas poderosas foram obrigadas a recuar a construção de hidrelétricas junto ao Rio Paranã e outras bacias, questão essa que inundaria parte significativa do território kalunga, matando a vida natural e expulsando do território seu povo e sua cosmovisão e cultura. Por este feito, Procópia foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz no ano de 2005.

 A luta desta mulher quilombola é tão importante que um dos maiores intelectuais do mundo, Boaventura de Sousa Santos, chegou a reconhecer publicamente que “é a luta de gente como Procópia, a luta pela emancipação do seu povo, salvaguardando a harmonia das relações da sua comunidade com o Cerrado brasileiro, que faz com que tenhamos esperanças de um outro mundo possível”, acentua. Santos escrevia em carta que o mundo está à beira de um colapso ecológico; que as questões climáticas não são narrativas aventureiras, entretanto, ou a humanidade faz um outro caminhar – aos moldes do bem-viver dos povos indígenas e quilombolas – ou iremos nos (auto)destrutir.

 Já para a atriz Lucélia Santos que interpretou, entre centenas de papéis marcantes na história da arte no Brasil, a “Escrava Isaura” na novela que leva o mesmo nome, “Procópia não é conhecida no Brasil apenas por sua indicação ao Nobel. É mulher que vem tramando (como na arte, a trama aqui é o enredo que se desenrola) um embate com os donos do capital que, mais que enxergar gente e meio ambiente, olham apenas para o dinheiro”, enaltece. A atriz lembrou em carta enviada à líder kalunga sua luta em defesa da vida e das políticas sociais ao seu povo.

 Luiz Marles Gonçalves, Coordenador da Universidade Estadual de Goiás em Campos Belos, em nome da instituição, parabeniza a Dra. Procópia pelo seu aniversário. “Gostaríamos de, representando o povo do nordeste goiano, região que também abriga o território kalunga, prestar nossa homenagem à dona Procópia por seus 90 anos de idade e agradecer a esta mulher por tudo que fez e faz por todos nós. A minha geração e a geração dos meus filhos que recebem os benefícios da sua luta. Meus netos e bisnetos haverão de estudar e se inspirar na história de Procópia dos Santos Rosa”, destaca.

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 A UEG, Unidade de Campos Belos, por meio da aluna de Pedagogia, Divina Márcia Dias da Conceição, que compôs uma poesia como presente para dona Procópia, parabeniza a Dra. Honoris Causa e matriarca parteira pelo seu aniversário.

 Divina, que também é mulher negra e quilombola, vê em Procópia uma fonte de inspiração para a vida e para seus estudos, pois sabe que graças à luta da matriarca pela educação que pessoas como ela podem esperançar sua emancipação e, de fato, terem uma vida com mais oportunidades e direitos. 

 Leiamos seus versos:

 Rosa quilombola

Procópia Dos Santos Rosa:
A rosa te assemelhas,
       [ a santa és comparada.
Desbravadora!
       [ Joia rara!
Dona da voz
       [ e da coragem!
Escolhida por Deus;
       [ aclamada pelo povo.
No seu caminhar,
       [ espinhos,
       [ e ainda assim,
És rosa!
Protegida é guiada pela fé,
Rosa quilombola
       [ mulher!
Que não te falte a proteção
       [ dos santos,
Porque mãe de muitos,
       [ ... tu és!

Da Redação da UEG UnU Campos Belos

Marconi Moura de Lima Burum