Aprovada na última sessão plenária do Conselho Superior da UEG, resolução que institui Comissão para conceder a maior honraria da Universidade à Procópia dos Santos Rosa, importante liderança do povo kalunga
(Iaiá Procópia no IV Encontro de Pesquisadores sobre Quilombolas Kalungas - UFT, 2019)
A proposta de título de Doutora Honoris Causa apresentada pelos coordenadores da Universidade Estadual de Goiás em Campos Belos, Luiz Marles e Adelino Machado, e também pelo representante do nordeste goiano no Conselho Superior da UEG (CsU), Marconi Burum, foi acolhida por outro conselheiro, este ligado à Reitoria da UEG, André Ursino, que sistematizou o documento final para ser entregue oficialmente ao Presidente do CsU e Reitor da UEG, professor Antônio Cruvinel. O gestor máximo da UEG acolheu de pronto a iniciativa e pautou na 133ª sessão plenária do último dia 29 de março.
Critério obrigatório para este tipo de homenagem na UEG, o Dr. Honoris Causa precisa passar pela análise e oitivas da comissão avaliadora, criada especialmente para oferecer ao CsU parecer pela aprovação ou rejeição do título. E esta comissão foi aceita por unanimidade de votos dos conselheiros na última sessão.
Pelas regras da UEG, a comissão tem até 90 dias para se manifestar sobre o mérito do título à matriarca quilombola, líder do povo kalunga.
Afinal, quem é Procópia dos Santos?
Mais conhecida em sua comunidade como Iaiá Procópia [89], a líder quilombola reside no povoado denominado de Riachão, pertencente ao território do povo kalunga, no município de Monte Alegre, região nordeste de Goiás.
Escritora, em co-autoria com a sua neta, a professora Lourdes Fernandes de Sousa (Bia Kalunga), Procópia dos Santos Rosa nasceu no dia 10 de fevereiro de 1933 na mesma fazenda que deu nome à sua comunidade. Mãe de dois filhos, já perdeu as contas da quantidade de netos e bisnetos que correm no quintal de sua casa construída com tijolos de adobe e telhado de palha, outrora, ou na nova residência, agora feita de alvenaria convencional.
Além de seus parentes diretos, Iaiá Procópia é parteira magna, ou o que se pode chamar de uma espécie de mestra-conselheira que auxilia as parteiras mais jovens no exercício do ofício de trazer ao mundo centenas de crianças de sua comunidade.
Procópia, na condição de liderança, é uma espécie de "advogada" popular que luta há várias décadas pelas necessidades estruturais, materiais, econômicas e sociais de seu povo, como a certidão de nascimento (são incontáveis os kalungas que viveram décadas sem o primeiro registro), ou mesmo a escola no território (hoje em vários dos povoados), além de tantas outras conquistas de direitos.
A matriarca pode ser chamada também de "pedagoga griô", ou seja, uma anciã que, à exemplo da tradição de certas comunidades africanas, é uma das responsáveis no território por transmitir o saber, passando-o de geração em geração, difundido assim a cultura da gente kalunga.
Como merecedora de louvor por sua incansável batalha pela emancipação de seu povo, Procópia é citada em dezenas de trabalhos acadêmicos, sejam estas, monografias, dissertações de mestrado e mesmo teses de doutorado. A líder quilombola não faz ideia mais da quantidade de artigos científicos, reportagens, ou eventos que tiveram em seu repertório de mobilizações e conquistas, as que conseguiu levar para os quilombolas de seu território, o centro das intervenções descritivas.
Dona Procópia foi convencida por amigos e parentes a implantar na comunidade Riachão o "Museu Iaiá Procópia", com o intuito de servir como memória às atuais e próximas gerações dos kalungas frente às dores, lutas e vitórias de seu povo, e também a fim de promover às centenas de visitantes de todos os lugares, espaços de troca de saberes e culturas.
Em 2005, veio o momento de maior coroação por seus feitos: Iaiá Procópia é indicada ao Prêmio Nobel de Paz, evento que a projeta nacional e internacionalmente como uma importante liderança brasileira na luta pelos direitos humanos.
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Sobre a Sessão Plenária do CsU que instituiu a comissão citada nesta matéria, clique aqui (Assistir a partir do minuto 35)
Sobre o evento, IV Encontro de Pesquisadores sobre Quilombolas Kalungas - UFT, 2019, clique aqui (Participação de Procópia a partir do minuto 57)