
Há pelo menos vinte anos está acontecendo um processo de construção teórica e de elaboração de políticas públicas denominadas Educação do Campo. Neste tempo, a maioria das universidades federais criou cursos de graduação voltados para a população do Campo. Diversos movimentos camponeses se envolveram com universidades e prefeituras para criarem cursos em todos os níveis. Diversas políticas Públicas de Educação do Campo foram criadas em todas as regiões do Brasil. Dezenas de teses, dissertações e monografias foram feitas para analisar esta nova realidade. Livros estão sendo publicados para explicar estas experiências. O conceito de campo ganhou novos significados. Leia este livro e compreenderá como o campo brasileiro está tomando um novo rumo. Bernardo Mançano Fernandes -Coordenador da Cátedra UNESCO de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial Professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNESP.

Este livro é o resultado dos debates e reflexões que aconteceram no Encontro de Educação para o Campesinato, ocorrido em agosto de 2010, no município de Goiás, na Unidade Universitária Cora Coralina da Universidade Estadual de Goiás. Esse encontro foi realizado por sujeitos da Universidade Estadual de Goiás, da Universidade Federal de Goiás, Comissão Pastoral da Terra de Goiás e da Secretaria de Educação Básica do município de Goiás, juntamente com os sujeitos do campo. Dentre as temáticas, que aqui são apresentadas em relatos de discussões, destaca-se as realizadas nas mesas redondas e conferência que abordaram “Desafios e perspectivas do campo em Goiás”, “Práticas e proposições para uma educação do campo”, “Educação do campo e desenvolvimento territorial rural”. Ainda, este livro como resultado de um encontro, conta com a contribuição de reflexões e debates, que compuseram o espaço titulado de Grupo de Trabalho, Mini-cursos e uma entrevista cedida pelo professor e pesquisador Bernardo Fernandes Mançano, que é coordenador da Cátedra da UNESCO de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial. Professor Flavio Antônio dos Santos -Diretor da UEG UnU Goiás.
A realidade da escolarização no campo do Brasil, no século XXI, ainda é muito precária e preocupante. Além dos inúmeros problemas que caracterizam a educação no meio rural, é possível destacar que, em muitos locais, se faz a reproduçãodo modelo das escolas da cidade ou o transporte dos alunos moradores no campo para escolas localizadas na cidade em função do fechamento de escolas situadas no campo. Nesse contexto, no Estado de Goiás, nos últimos 10 anos, em virtude do fechamento de aproximadamente 60% das escolas situadas no campo, há uma enorme carência de instituições de ensino nessas localidades. Esse fator projetou o Estado de Goiás no ranking dos 10 estados que mais fecham escolas no meio rural. Considerando os números divulgados pelo censo escolar, realizado pelo INEP, nos últimos 10 anos, o Estado de Goiás passou a ser o segundo estado que mais fecha escolas, perdendo apenas para o estado de Rondônia, que já fechou mais de 70% das escolas situadas no campo. As escolas que permanecem vêm enfrentando diversos problemas ligados à infraestrutura, transporte, formação docente, dentre outros, e funcionando de forma muito precária. O município de Goiás também é um território que expressa esses diversos problemas e nos convida para uma reflexão-ação dos mesmos, pois, até o ano de 2012, havia oito escolas municipais situadas no campo, e destas, quatroescolas são consideradas polo, sendo elas: Escola Holanda, Vale do Amanhecer, Terezinha de Jesus Rocha e Olimpya Angelica de Lima. Duas estão situadas em assentamentos e duas em povoados. Quatro são escolas multisseriadas, sendo elas: Escola Municipal Arnulpho Di Ramos Caiado, Escola Municipal Uva, Escola municipal Manzinha de Anjo, Escola Municipal Pingo de Gente. Esse município também tem uma Escola Família Agrícola, titulada de Escola Famí-lia Agrícola de Goiás (EFAGO), que estava sendo mantida parcialmente pelo Estado. Além disso, possui e três escolas estaduais que são consideradas escolas situadas no campo, sendo a Escola Estadual Albion de Castro Curado, Escola Estadual PovoadoSão João e a Escola Estadual Walter Engel. Considerando que essas escolas supracitadas precisam estar localizadas no campo e ser espaço de reflexão sobre o cotidiano do aluno, como primeira ação importante nesse processo de valorização do território desse sujeito foi realizado o II Encontro de educação para o campesinato no município de Goiás em 2012 na UEG Unidade de Goiás. Logo, esse livro é produto dos debates e reflexões realizadas pelas entidades e sujeitos que vêm efetivando a educação que sefaz no campo desse município.Assim, pretendemos com esse livro ampliar e propagaras discussões dos problemas ligados à educaçãono campo desse município, assim como, buscar soluções para a superação dos mesmos, para a efetivação da educação no/do campo no município de Goiás.
.Este livro evidencia a perversidade dos mecanismos empregados pelos agentes do capital para expropriar a renda camponesa e subordinar o campesinato à lógica do capital. Mas como afirma Edson (2014, p. 6), em sua dissertação de mestrado, “o camponês é acima de tudo um forte, dele o sistema capitalista leva o trabalho materializado na mercadoria, o denomina de ‘caipira’ atrasado,resquício do passado, lhe tira o direito ao campo, arrancando sua pele, o deixando em carne viva, [...] deixando claro o lugar do camponês na sociedade capitalista”.
Nesta obra o autor expressa de forma muito contundente que há um cerco ao campesinato, imposto pelas estratégias do agronegócio no campo goiano, evidenciado pela apropriação da renda da vida, imposição da lógica da agricultura da morte, expressas pela “fertilidade fabricada” nas monoculturas que, para produzir, agride o solo, a floresta, a água corrente, a água do subsolo, o ar, envenena os trabalhadores nos locais de trabalho, contamina mansamente os consumidores, pelo monopólio e coerção do mercado capitalista de alimentos. O perverso modelo do agronegócio simplifica os sistemas agrícolas, impondo a perda não só da biodiversidade, mas da sociobiodiversidade. Finalizo estas breves palavras com o poema de Dom Pedro Casaldáliga, Confissões do Latifúndio, que simboliza bem que, sob o manto da agricultura
“moderna”, as novas formas de ação do capital não se diferenciam do que está expresso nas palavras desse incansável religioso, que dedicou sua vida em defesa dos mais pobres e explorados da Amazônia: “Por onde passei, plantei a cerca farpada, plantei a queimada. Por onde passei plantei a morte matada. Por onde passei matei a tribo calada, a roça suada, a terra esperada ... por onde passei, tendo tudo em lei, eu plantei o nada”.
Manoel Calaça