Projeto de extensão da Unidade Universitária da UEG de Campos Belos é responsável por envolver a comunidade escolar de parte do território Kalunga, para discutir o Currículo Pluricultural Griô. Esta cosmopercepção curricular está na base do respeito e valorização dos conhecimentos ancestrais da comunidade afrobrasileira. A principal referência contemporânea para os estudos deste currículo é a gestora, escritora, educadora, agricultora familiar, idealizadora e coordenadora do Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô, da Escola de Formação na Pedagogia Griô, do Programa Ação Griô Nacional e da Escola de Políticas Culturais, Líllian Pacheco.
“Desenvolvendo o Currículo Pluricultural Griô na escola Kalunga” é um projeto de extensão universitária, que tem como objetivo, entre outros, colaborar para o fortalecimento do diálogo entre cultura local e conhecimentos universais. A proposta tem o apoio da Secretaria Municipal de Educação, da coordenação e da direção das escolas municipais do território no município.
A microação, ou meta III do projeto foi realizada no dia 22 de agosto de 2025 e teve como centro de atenções a palestra “Conexões entre currículo escolar e saberes populares Kalunga”, ministrada pelos educadores Dr. Rosolindo Neto e a mestra Bia Kalunga. Ao relembrar sua trajetória de aprendizagem, a hoje mestra Bia trouxe o tema da “curraleira”, expressão musical em rima praticada na comunidade. Ela disse que “em vez de um documento”, o Currículo Griô “é um processo pedagógico no qual os saberes ancestrais são compartilhados na comunidade e na escola fortalecendo a identidade” do povo.
Ao explicitar algumas nuances da cultura, valor que precede o currículo, Dr. Rosolindo abordou uma peculiaridade intrinsecamente Kalunga. Ao referir-se sobre o currículo oculto ele disse: “eu lembro muito bem quando eu fazia minha pesquisa de mestrado, conversando com dona Procópia (92 anos), que é referência imprescindível para qualquer pesquisa na comunidade, ela me falou sobre o dia que Caim matou Abel, que é um dia que todos temem em falar”. Trata-se de “conteúdos ‘inconfessáveis’ da cultura Kalunga”, reitera o educador.
O projeto em questão está previsto para ser concluído no mês de dezembro de 2025. Nos meses de setembro, outubro e novembro serão atingidas as metas IV, V e VI, nas escolas Kalunga Municipais Barra, Areia e Sucuri. No próximo encontro, do mês de setembro, serão expositores orais a Srª Teodora F. de Castro Moreira e o Sr. Valdeni Rodrigues da Conceição, Griôs das comunidades Faina e Tinguizal.
A expectativa é mobilizar o diálogo e articular conteúdos e práticas educativas que restaure, preserve e valorize as expressões culturais locais, cultivadas por esses Griôs e seus familiares. Neste ínterim, as/os operadoras/es do planejamento escolar, gestores, coordenadores, professoras e professores, tem a oportunidade de refletir em torno dos saberes tradicionais vividos e verbalizados pela população do território.
Adelino Soares Santos Machado