Navegue pelo conteúdo: Cehidra Cerrado| Três eixos estratégicos|Capilaridade regional| Rede de pesquisa e parcerias| Consolidação da UEG como referência| Saiba mais

Setembro, mês em que se celebra o Dia Nacional do Cerrado (11/9), recoloca em evidência o debate sobre a conservação de um bioma essencial ao equilíbrio hídrico do país. Entre 1985 e 2024, o Cerrado perdeu 91% de sua superfície de água natural, segundo levantamentos do MapBiomas Água. Em 2024, o bioma registrou 1,63 milhão de hectares de água superficial – 28,8% abaixo da média histórica – e viveu uma inversão no perfil hídrico: passou de 63% de águas naturais em 1985 para apenas 40% em 2024, enquanto reservatórios artificiais, como represas e barragens, já respondem por 60%.

A pressão do desmatamento também repercute sobre a disponibilidade hídrica, ao alterar o regime de chuvas e a recarga dos aquíferos. Embora os alertas tenham caído 20,8% entre agosto de 2024 e julho de 2025, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o impacto acumulado segue comprometendo a resiliência das bacias. O Cerrado abriga nascentes que alimentam 8 das 12 grandes Regiões Hidrográficas do país, o que impõe algumas questões-chave: como garantir o abastecimento de rios e aquíferos frente ao uso agropecuário e industrial e ao agravamento provocado pelas mudanças climáticas? Que estratégias podem conciliar produção, consumo e conservação? E de que forma a Ciência pode oferecer soluções práticas para garantir a disponibilidade hídrica?

É nesse ponto que entra a resposta da Universidade Estadual de Goiás (UEG): o Centro de Excelência em Segurança Hídrica do Cerrado (Cehidra Cerrado). Concebido como uma estrutura científica e tecnológica permanente, o Cehidra integra pesquisa, inovação e soluções aplicadas para promover o uso sustentável da água e subsidiar políticas de gestão hídrica em Goiás e no Brasil. Ao combinar monitoramento em campo, experimentos inovadores e formação de recursos humanos – em sintonia com iniciativas como o ProfÁgua e a Rede HidroCerrado –, o Centro busca transformar evidências científicas em ações concretas de conservação e gestão eficiente. 

Com sede no Câmpus Central da UEG, em Anápolis, o Cehidra foi lançado em novembro de 2024, durante o 10º Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe|UEG). “O Centro é fruto do amadurecimento de competências de pesquisadores e pesquisadoras da universidade e da estruturação de programas de pós-graduação que atuam com foco na segurança hídrica e seus temas correlatos. A proposta é usar o know-how desses programas, articulá-los com conhecimento popular e mostrar como é possível resolver problemas complexos com ciência, tecnologia e participação social, cumprindo o planejamento institucional da universidade em especializá-la como instituição que entende do Cerrado e está especialmente envolvida com temas prioritários para a vida em sociedade”, afirma o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UEG, prof. Claudio Stacheira.

Investimento

Com investimento total de R$ 23 milhões – R$ 15 milhões provenientes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e R$ 8 milhões da própria UEG, por meio de sua política de fomento à pesquisa e à pós-graduação –, o Cehidra reúne laboratórios e unidades experimentais como os mesocosmos, estrutura com 80 reservatórios de 500 litros cada, instalada no Câmpus de Anápolis, que simula ambientes aquáticos naturais.

Coordenado pelo prof. João Nabout, docente dos programas de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Cerrado (Renac) e de Engenharia Agrícola da UEG, o aparato permite a realização de experimentos controlados e a compreensão, de forma aplicada, da dinâmica ecológica de rios e lagos do Cerrado. A UEG é hoje uma das três instituições de ciência e tecnologia no Brasil a dispor desse experimento, e a única das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Juntamente com outros laboratórios e estratégias inovadoras, como o uso de Inteligência Artificial (IA), os mesocosmos integram as ações do Cehidra para a recuperação de ambientais aquáticos. Clique aqui para saber mais. 

Outra inovação será a implantação de um sistema de monitoramento por telemetria, com uma rede de sensores instalados em rios, nascentes, barragens e córregos de Goiás. Os dados coletados serão transmitidos em tempo real para uma sala de situação, em um prédio que será construído na sede do Cehidra, em Anápolis. “Vamos ter um painel de informações e indicadores onde será possível enxergar os dados sobre a qualidade e quantidade de água. Qualquer gestor estadual ou municipal poderá acessar essas informações”, detalha o prof. Stacheira.

Linhas de atuação do Cehidra

O Cehidra estrutura suas ações em três principais linhas de atuação:

• Monitoramento da qualidade e quantidade da água – medições em campo e análises em rios, lagos, represas e bacias hidrográficas do estado, assegurando que população, cidades, atividades produtivas e agendas estaduais de desenvolvimento tenham água em volume e qualidade suficientes para a vida sustentável.

• Engajamento cidadão e educação para segurança hídrica – aproveita a vocação da UEG na formação de professores para levar o tema às escolas públicas, com projetos como clubes das águas, festivais de teatro e atividades de educação socioambiental. “Entendemos a mobilização dos cursos de licenciatura das mais variadas áreas da nossa universidade, junto com o Cehidra Cerrado, na expectativa de levarmos para dentro das escolas públicas do estado de Goiás a pauta da segurança hídrica”, reforça o pró-reitor Claudio Stacheira.

• Apoio à decisão estratégica em políticas públicas – traduz pesquisas em painéis de indicadores e relatórios para apoiar gestores públicos, comitês de bacia e setor produtivo, oferecendo dados científicos que embasem decisões em segurança hídrica.

A partir dessas bases, o Cehidra articula oito áreas de competências – quantidade e qualidade da água, mudanças climáticas, biodiversidade, manejo de estoque, recuperação de ambientes aquáticos, ciência cidadã, integração com a sociedade, qualificação e formação. O território de atuação contempla as bacias Tocantins–Araguaia e Paraná, além de sub-bacias prioritárias (rios Vermelho, dos Bois e Corumbá) e a área experimental dedicada aos ensaios em mesocosmos.

Entre os produtos previstos, estão mapas e cenários de segurança hídrica, estudos de qualidade da água, catálogo da biodiversidade e definição de áreas prioritárias. O centro também atuará com manejo de pesca e técnicas de recuperação de ambientes, além de cursos de formação, produção de livros, materiais educativos e aplicativos digitais.

Capilaridade regional

Embora sediado em Anápolis, o Cehidra Cerrado implantará gradativamente núcleos operacionais nos municípios de Iporá, Porangatu, Cidade de Goiás e Quirinópolis, aproveitando a estrutura multicampi da UEG. A descentralização busca aproximar a pesquisa das diferentes realidades hídricas do estado e equilibrar demandas regionais.

Esse movimento de interiorização se conecta diretamente com o ProfÁgua, programa nacional de mestrado profissional em rede voltado à gestão e regulação dos recursos hídricos, que a UEG passou a oferecer neste semestre na Unidade Universitária de Iporá, e que integra as metas estratégicas do Cehidra. Criado em 2015, o ProfÁgua reúne instituições de ensino superior de 26 unidades federativas brasileiras e forma especialistas preparados para apoiar comitês de bacia e órgãos gestores em todo o país.

Em visita à UEG, em agosto, o coordenador-geral do programa, Jefferson Nascimento de Oliveira, ressaltou a relevância da adesão da universidade: “É fundamental que o país se volte para dentro, não fique somente voltado para o Atlântico. Temos pessoas e problemas também no interior. Essa capilaridade que a UEG tem é importantíssima, porque depois você pode criar, não só em Iporá, mas em outros lugares, centros de pesquisa que desenvolvam mais ainda a questão dos recursos hídricos", salientou. 

Rede de pesquisa e parcerias

O Cehidra atua de forma integrada com a Rede de Pesquisa em Segurança Hídrica e Sociobiodiversidade para o Desenvolvimento Sustentável do Cerrado (Rede HidroCerrado), coordenada pela UEG em parceria com seis instituições do Centro-Oeste: UniEvangélica, PUC-Goiás, Instituto Federal de Goiás (IFG), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).

Financiada pela Fapeg e pela Capes, a Rede concentra esforços nas bacias dos rios Meia Ponte e Araguaia-Tocantins, com foco na identificação de poluentes, despoluição sustentável e metodologias inovadoras de monitoramento. “Quando falamos de sustentabilidade, estamos pensando também no conceito de sociobiodiversidade. Por isso, o tema da nossa rede é o estudo da segurança hídrica e da sociobiodiversidade para a sustentabilidade do bioma Cerrado”, explica a coordenadora, profa. Samantha Salomão Caramori, docente do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Cerrado (Renac|UEG) e responsável pela Coordenação Institucional de Pós-Graduação da UEG.

Enquanto a Rede HidroCerrado tem como eixo a formação de recursos humanos em nível de doutorado e pós-doutorado, o Cehidra volta-se à pesquisa aplicada, oferecendo soluções práticas. “Nós temos projetos desenvolvidos por doutorandos e pós-doutorandos no âmbito da Rede HidroCerrado, e no Cehidra trabalhamos com propostas que chegam diretamente à sociedade”, destaca a professora. “A Rede está mais ligada à pesquisa básica, embora dialogue com a aplicada. Já o Cehidra vai trabalhar com inovação, tecnologias e ferramentas para que órgãos públicos, companhias e empresas utilizem e proponham políticas públicas para solucionar problemas ambientais emergenciais ligados à segurança hídrica”, detalha.

Araguaia Vivo

Outra parceria estratégica é com o Programa Araguaia Vivo 2030, gerido pela Tropical Water Research Alliance (TWRA) e financiado pela Fapeg. Lançado em 2023, o programa conta com mais de 200 pesquisadores, docentes e estudantes de 23 instituições – especialmente em Goiás. Com 11 atividades interligadas, reúne conhecimento científico para restaurar ecossistemas aquáticos, recuperar matas ciliares e engajar comunidades da bacia do Araguaia em ações de conservação, educação socioambiental e geração de renda. A UEG lidera atividades como “Biodiversidade Aquática”, “Turismo e Pesca” e “Mobilização, Sensibilização e Capacitação de Atores Locais”, conectando pesquisa, extensão e diálogo com o poder público para qualificar políticas e projetos no território.

O prof. João Nabout explica como o Cehidra potencializa a atuação do programa. "A bacia do Rio Vermelho é uma das áreas que vamos monitorar e que também está no escopo do Programa Araguaia Vivo. A ideia é somar esforços – de equipe e de monitoramento – para fortalecer o trabalho nessa região. Há uma atuação conjunta entre o Araguaia Vivo e o nosso projeto. Mas o Centro de Excelência tem uma abrangência maior: ele não ficará restrito a essa bacia, vai atuar em outras regiões também", reitera.

Consolidação da UEG como referência

Para a UEG, o Cehidra Cerrado representa um marco institucional ao reunir pesquisas já desenvolvidas por diferentes programas de pós-graduação e laboratórios da universidade, ampliando sua visibilidade e impacto social. “A universidade já tem um acúmulo gigantesco de pesquisa nessa área, mas muitos pesquisadores encontram-se atuando de forma isolada. O Centro nasce para aglutinar esse conhecimento e mostrar que a UEG pode ser referência nacional em segurança hídrica no Cerrado", afirma o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Claudio Stacheira, que destaca:

"Nosso sonho com o Cehidra é que a ciência e a tecnologia da UEG cheguem a cada torneira dos goianos. Queremos que o planejamento e a gestão de água em Goiás aproveitem aquilo que a UEG faz como pesquisa, tecnologia e formação de pessoas" 

SAIBA MAIS 

Rede HidroCerrado

Com investimento de R$ 3,74 milhões, via Fapeg e Capes, a Rede concentra as pesquisas nas bacias do Rio Meia Ponte e Araguaia-Tocantins, com foco em monitoramento da contaminação da nascente à foz; análises ecotoxicológicas em peixes, fitoplâncton, microrganismos da água e solo; modelos de dispersão de poluentes; degradação de pesticidas e desenvolvimento de estratégias de mitigação em comunidades rurais. Entre os objetivos, estão oferecer planos de biomonitoramento para gestores públicos, formulação de bioprodutos e avançar em educação ambiental e sustentabilidade no Cerrado.

Com início em março de 2025 e conclusão prevista para 2029, a Rede prevê a formação de doutores e pós-doutores, concessão de bolsas pela Capes, publicações científicas, registro de patentes e a publicação de um livro. O projeto integra ações de mobilidade docente, interiorização e internacionalização da pesquisa, além da realização de seminários e subprojetos interinstitucionais. Também conta com a parceria do Araguaia Vivo 2030 e colaboração com instituições estrangeiras, a exemplo da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos (Com informações da Fapeg).

ProfÁgua

A iniciativa integra a rede nacional coordenada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Engloba instituições de ensino superior de 26 unidades federativas do país, proporcionando formação teórica e prática. O curso é voltado a profissionais que atuam na área de recursos hídricos e visa capacitá-los para enfrentar os desafios da regulação e gestão das águas, promovendo soluções eficazes, integradas e sustentáveis. A formação se articula em quatro linhas de pesquisa: "Ferramentas Aplicadas aos Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos"; "Metodologias para Implementação dos Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos"; "Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos"; e "Segurança Hídrica e Usos Múltiplos da Água". 

(Comunicação Setorial|UEG)