O primeiro arremesso de Alexia Gonçalves de Almeida não foi fruto do acaso - foi competitivo desde o início. A aluna do 2º período de Administração da Unidade Universitária de Anápolis - Nelson de Abreu Júnior da Universidade Estadual de Goiás (UnUCSEH|UEG) conheceu o boliche já em ambiente de disputa: no Campeonato Goiano. Ali, teve os primeiros contatos com o esporte e com as competições organizadas pela Federação de Surdos. “No início, participei apenas de jogos entre surdos, mas depois percebi que queria ir mais longe. Foi então que participei de uma competição em Belo Horizonte (MG), e comecei a disputar oficialmente”, conta Alexia.
Entre treinos, estudos e competições, a jovem descobriu no esporte uma forma de expressão e um caminho de conquistas. Agora, esse caminho a leva mais longe. Alexia foi convocada pela Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS) para integrar a Seleção Brasileira de Boliche na 25ª edição das Surdolimpíadas (Deaflympics), que será realizada entre os dias 15 e 26 de novembro, em Tóquio, no Japão.
É a primeira vez que uma atleta goiana representará o estado nessa modalidade. “A CBDS me escolheu para a Seleção Brasileira, pois alcancei o primeiro lugar no ranking nacional em Belo Horizonte. Levo essa competição muito a sério, pois é um passo importante rumo às Olimpíadas. Foi uma emoção enorme, um momento histórico e a realização de um grande sonho: a primeira vez que vivi algo tão especial”, comemora.
A atleta é filiada à Associação dos Surdos de Anápolis (Asana) e à Federação Goiana de Desportos de Surdos (FGDS), instituições que acompanham sua trajetória no esporte inclusivo. No boliche adaptado, a comunicação ocorre por meio de sinais visuais e motores, além de movimentos precisos, em uma dinâmica que valoriza a atenção e a leitura corporal. Alexia atua nesse universo com domínio e sensibilidade, acumulando experiências e conquistas que a conduziram até a seleção nacional. “Percebemos a expressão pessoal dos atletas, que é quase igual à dos ouvintes, observando o movimento do corpo. Temos uma tabela de pontos na TV que nos ajuda a acompanhar”, explica a atleta.
Em todo o país, apenas oito atletas foram convocados para a Seleção Brasileira de Boliche nas Surdolimpíadas. Como única representante de Goiás, Alexia leva consigo o nome do estado e a força de uma comunidade que acredita na inclusão pelo esporte.
Campanha de arrecadação
A convocação da atleta para as Surdolimpíadas, no entanto, veio acompanhada de um desafio. Os custos da viagem, que incluem hospedagem, alimentação, taxas, uniforme, passagens aéreas e seguro, são de responsabilidade individual dos atletas. Segundo a Federação Goiana de Desportos de Surdos (FGDS), o valor estimado é de R$ 26,5 mil.
Sem patrocínio fixo, Alexia organizou uma vaquinha virtual e iniciou uma campanha junto a familiares, amigos e comerciantes para arrecadar os recursos necessários. Com o apoio da comunidade, ela tenta garantir sua presença na competição. “Consegui organizar pessoas que me ajudaram com doações e apoio. Já cobri passagem, inscrição e vários outros custos. Mas ainda estou muito preocupada, pois faltam R$ 13 mil apenas para hospedagem e alimentação. A hospedagem da próxima semana precisa ser reservada e é muito cara. Infelizmente, não consigo arcar sozinha, nem minha família, e qualquer ajuda de cada pessoa seria muito importante”, afirma.
Para contribuir com a arrecadação de recursos que viabilizará a participação de Alexia nas Surdolimpíadas, os interessados podem acessar o perfil da atleta no Instagram: @alexiaglmd. O perfil reúne todas as informações sobre como participar.
Inclusão
De acordo com o diretor do Instituto Acadêmico de Ciências Sociais Aplicadas (IACSA|UEG), professor Rodrigo Messias, a trajetória de Alexia expressa valores que a universidade busca fortalecer em sua formação: “resiliência, inclusão, determinação e compromisso com o desenvolvimento humano". Segundo ele, "ao conciliar os estudos universitários com a dedicação ao esporte, Alexia mostra que o conhecimento e o esforço pessoal caminham juntos na construção de histórias de superação e conquista”.
O diretor destaca ainda que “a universidade se orgulha de acompanhar o percurso de seus estudantes que, em diferentes áreas, contribuem para uma sociedade mais plural, solidária e transformadora”.
Com a aproximação da data de competição, Alexia mantém o ritmo de treinos e a concentração necessária. “Às vezes os treinos são durante a semana e outras vezes no fim de semana”, diz. Entre o esforço diário e a esperança, sua trajetória revela que o esporte é mais do que desempenho: é compromisso, propósito e constância.
(Comunicação Setorial|UEG. Fotos: Divulgação)