A ‘caixa d’água’ do Brasil sob ameaça
Quase metade do Cerrado — uma área 22 vezes maior que a do Estado do Rio — já foi desmatado
De Catarina Alencastro, de O Globo:
Cerrado brasileiro já perdeu quase metade de sua cobertura florestal original.
Um estudo ainda inédito do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente identificou que 48,5% do Cerrado já foram desmatados, numa extensão de quase um milhão de km².
A área é superior ao Estado do Mato Grosso e corresponde a 22 estados do Rio de Janeiro.Entre 5% e 6% do total desmatado teriam ocorrido de 2002 a 2008 — uma área entre 120.000 e 129.000 km².
Os principais causadores da derrubada do bioma, considerado a mais rica savana do mundo, são as plantações de soja, a pecuária e a exploração de madeira para fazer o carvão que abastece siderúrgicas.
Os dados ainda são preliminares e estão em fase de revisão. Os números oficiais deverão ser divulgados na próxima sexta-feira, Dia do Cerrado.
— É uma taxa alta, mas não é surpresa, porque o Cerrado vem sofrendo com o desmatamento desde os anos 1970. A má notícia é que continua acontecendo — disse Braulio Ferreira de Souza Dias, da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente. Assinantes,
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Cursos privados concentram 74% das notas ruins no Enade
Agência Brasil
Brasília - Entre os 7.329 cursos superiores avaliados em 2008 no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), 1.752 obtiveram notas ruins. Desse total, 74% são de estabelecimentos privados. O Ministério da Educação (MEC) divulga amanhã (4) a nota de todas as graduações avaliadas.
Esses cursos registram notas 1 ou 2 no Enade. Mais de 1,5 mil também registrou notas 1 ou 2 no Conceito Preliminar de Curso (CPC). Esse indicador engloba a nota no Enade e outros fatores que contribuem para a qualidade da formação do aluno, com o corpo docente, a infraestrutura e o projeto pedagógico da instituição. O Enade tem um peso de 60% no CPC. O conceito vai de 1 a 5, sendo 1 e 2 considerados insatisfatórios, 3 razoável e 4 e 5 bons.
De acordo com presidente do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes, o CPC permite ter um olhar mais completo sobre a formação do aluno. “O Enade nos permite dizer como foi que esse aluno saiu da universidade, mas não mensura como foi que ele entrou e quanto isso influencia na nota. Já o CPC pode dizer qual foi a contribuição da instituição para aquele resultado, para a formação do aluno”, explicou.
As áreas avaliadas em 2008 pelo Enade foram matemática, letras, física, química, biologia, pedagogia, arquitetura e urbanismo, história, geografia, filosofia, computação, ciências sociais e as engenharias. Além disso participaram da prova os cursos tecnológicos de análise e desenvolvimento de sistemas, tecnologia em alimentos, automação industrial, construção e edifícios, fabricação mecânica, gestão da produção industrial, manutenção industrial, processos químicos, redes de computadores e saneamento ambiental. Cerca de 380 mil alunos fizeram as provas.
Apenas 1,43% dos cursos foi considerado excelente (CPC 5). As graduações que receberam notas 1 ou 2 serão visitadas por comissões de avaliação do MEC. Se a nota for confirmada e o Conceito de Curso (CC) permanecer nessa faixa, a instituição pode sofrer algumas sanções como corte de vagas e suspensão de processos seletivos.
“Se um curso tem CC 4 ou 5, significa que ele é bom. Os com CC 3 tem condições de funcionar. Quem tem CC 2 tem condições insatisfatórias, mas pode melhorar com as medidas adequadas. Mas o curso com CC 1 precisa de profundas mudanças”, disse Reynaldo.
A partir de segunda-feira (7) o Inep vai disponibilizar na internet as notas de cada curso no Enade e o respectivo CPC para o público. “Os estudantes devem avaliar todos os indicadores antes de escolher onde estudar. Devem procurar saber qual é o Enade, o CPC, o CC daquele curso. Eles [indicadores] não são a única forma de avaliar um curso, mas são indicadores interessantes”, afirmou.
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Engenharia elétrica do ITA obteve a melhor avaliação do MEC
Agência Brasil
O curso de engenharia elétrica do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA) conquistou a maior nota na avaliação do Ministério da Educação. A graduação registrou 485 pontos no Conceito Preliminar de Curso (CPC). O indicador é composto pela nota obtida pelo curso no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), além de outros fatores que contribuem para a qualidade da formação do aluno, como o corpo docente, a infraestrtura e o projeto pedagógico da instituição. O CPC vai de 1 a 5, sendo 1 e 2 considerados insatisfatórios, 3 razoável e 4 e 5 bons.
As disciplinas avaliadas, em 2008, pelo Enade foram as de matemática, letras, física, química, biologia, pedagogia, arquitetura e urbanismo, história, geografia, filosofia, computação, ciências sociais e as de engenharias. Também passaram pela avaliação os cursos tecnológicos de tecnologia em alimentos, análise e desenvolvimento de sistemas, automação industrial, construção e edifícios, fabricação mecânica, gestão da produção industrial, manutenção industrial, processos químicos, redes de computadores e saneamento ambiental. Cerca de 380 mil alunos fizeram as provas.
As engenharias do grupo 2* foram as que obtiveram o melhor resultado, dos 387 avaliados 15 conseguiram a graduação CPC 5. Já entre os 80 cursos que tiraram nota 1, a maioria (12) é de pedagogia. Um total de 2.510 disciplinas ficaram sem conceito porque não houve participação mínima dos alunos no Enade. O curso com menor nota no CPC (28 pontos) foi o de tecnologia em análise e desenvolvimento de sistemas, da Faculdade do Sul da Bahia em Teixeira de Freitas (BA).
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Um em cada três cursos avaliados pelo MEC tem nota insatisfatória
Agência Brasil
Cerca de 30% dos cursos avaliados pelo Ministério da Educação (MEC) obtiveram nota 1 ou 2 no Conceito Preliminar de Curso (CPC), em uma escala de 1 a 5. O resultado é considerado insatisfatório pelo MEC, e os cursos serão visitados por comissões de avaliação.
O CPC é composto pela nota obtida pelo curso no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), além de outros fatores que contribuem para a qualidade da formação do aluno, como o corpo docente, a infraestrutura e o projeto pedagógico da instituição.
Em termos percentuais, os estados com maior quantidade de graduações de baixa qualidade (com CPC 1 e 2) são do Amazonas, Amapá, de Alagoas, Sergipe, Goiás e do Distrito Federal. No DF, os cursos com conceito insatisfatório são 42% da oferta.
Paradoxalmente, o Distrito Federal apresenta o maior percentual de cursos considerados excelentes pelo MEC, com CPC 5: 2,68%. O Rio de Janeiro obteve o maior percentual de cursos com CPC 5 (4,29%), além de Minas Gerais (2,17%), Mato Grosso do Sul (2,17%) e do Rio Grande do Norte (2,11%). Cerca de 15 estados não apresentaram cursos avaliados com nota 5.
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Portarias do MEC que proíbem vestibulares estão no Diário Oficial
Agência Brasil
O Ministério da Educação suspendeu a realização de vestibulares, indeferiu pedidos de abertura de novos cursos e cortou vagas em instituições de ensino superior em várias cidades brasileiras. Os despachos e portarias foram publicados na edição de hoje (4) do Diário Oficial da União. A razão dos cortes foi o resultado insatisfatório nas avaliações do MEC.
As instituições terão um prazo de dez meses para corrigir as falhas e apresentar um plano para melhorar a qualidade do ensino ofertado, para então receberem nova visita do MEC. Com a medida, deixaram de existir cerca de 2,5 mil vagas em 83 cursos de graduação. Também deixaram de ser abertos 357 cursos em instituições de educação superior.
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Jovens latino-americanos debatem no Rio ações para melhorar ensino
Agência Brasil
Cerca de 750 jovens reuniram no Rio de Janeiro, para participar do 1º Encontro Latino-Americano de Estudantes Secundaristas. É a primeira vez que estudantes brasileiros e de outros países da América Latina discutem, em um evento formal, as dificuldades e possíveis soluções para promover melhorias no sistema de ensino de cada região.
De acordo com o presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), Ismael Cardoso, a finalidade é estimular a troca de experiência entre os representantes das nações vizinhas.
“A América Latina, sob diversos pontos de vista, tem características parecidas e realidade semelhante. Não é só no Brasil, por exemplo, que os estudantes sofrem dificuldades no acesso à universidade pública. Vamos discutir também a necessidade de se melhorar o transporte para os estudantes, de modo que seja garantido o direito de ir e vir dessa parcela da população.”
Além desses assuntos diretamente relacionados à melhoria da infraestrutura educacional, os estudantes querem debater temas que invadem o campo político, como o reforço das bases militares norte-americanas no continente e a destinação dos recursos provenientes da exploração do petróleo na camada pré-sal.
“A falta de recursos para a educação é um dos maiores problemas que enfrentamos no país. Por isso, destinar 50% do Fundo Social, que será criado, à educação é uma boa forma de estabelecermos uma educação de qualidade a médio e longo prazos.”
Ao longo da programação, que se estende por três dias, e ocorre simultaneamente ao 12º Congresso Nacional de Entidades Estudantis (Coneg), serão promovidas apresentações artísticas, feira de ciências, atividades de valorização da prática esportiva e de preservação ambiental. Ao fim do evento, a Ubes vai lançar a Jornada de Lutas em Defesa da Cultura, que vai propor um calendário de passeatas e manifestações pelos países latino-americanos por uma educação de qualidade.
De acordo com dados do Ministério da Educação, o Brasil tem atualmente cerca de 10 milhões de alunos no ensino médio.
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Da Revista Veja
MAIS ESTUDO, MENOS VIOLÊNCIA
Ao ampliar o turno de escolas encravadas em favelas cariocas,
programa da prefeitura dá nova perspectiva a crianças que
ficavam ociosas e expostas à criminalidade
Há tempos tornou-se um lugar-comum dizer que, na ausência do estado, o tráfico de drogas se transformou num poder paralelo nas favelas cariocas. Entre os muitos males dessa situação, talvez o mais terrível seja o contínuo aliciamento de crianças para o crime. Pois acaba de ser lançado pela prefeitura do Rio de Janeiro um programa que promete oferecer a essas mesmas crianças novas perspectivas de vida, afastando-as de um cotidiano violento. Nesse programa, a educação é o "poder paralelo". O Escolas do Amanhã abrange 73 favelas, 150 escolas, 108 000 alunos. Um de seus pilares é a adoção do turno integral, que mantém as crianças no colégio por sete horas e meia - quase o dobro do turno normal. Não se trata da primeira iniciativa que amplia a jornada de estudos em escolas brasileiras. Tampouco é a primeira vez que isso ocorre numa favela. Mas o Escolas do Amanhã também se destaca por sua ênfase na qualidade de ensino. Em outras palavras, sua filosofia é a de que não basta manter os alunos dentro dos muros do colégio - é preciso ensiná-los de maneira efetiva. Assim, cursos adicionais como xadrez, música, dança e mecânica serão ministrados nas horas extras - sempre que possível, estabelecendo ligações com o currículo regular. Mais importante, contudo, é o fato de que, no novo turno, os estudantes passarão a receber reforço escolar, emergencial num contexto em que muitos não sabem sequer ler. E ainda serão supervisionados, sempre que necessário, na lição de casa. "Num ambiente tão adverso, todo o esforço é para fazer com que as crianças gostem da escola e não abandonem os estudos - uma tentação permanente", diz a secretária de Educação, Claudia Costin. Assinantes,
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Menina que foi espancada na escola por duas colegas diz que seu único desejo é nunca mais voltar a vê-las
Marcelo Abreu, do Correio Brasiliense
A cicatriz na barriga mede quase 20 centímetros. Um dia, provavelmente, parecerá menos. Ficará talvez menos visível. Mas as que ficarão — ou já estão — tatuadas na alma jamais se apagarão. Laura, de 15 anos (o nome dela é a única coisa fictícia nesta história toda), é uma sobrevivente. E da pior tragédia, do pior traço da raça tida como civilizada: a brutalidade humana. Laura não foi assaltada, tampouco sequestrada ou estuprada. A adolescente foi espancada quase até a morte na saída da escola onde estuda, o Centro de Ensino Fundamental 11 do Gama, há quase duas semanas. E também não foi surrada por um desconhecido que invadiu a escola.
As duas autoras da terrível agressão — que pode ser classificada também como tentativa de homicídio, pelas consequências que causaram na menina — foram duas colegas de sala de aula, uma de 15 e outra de 16 anos. Durante 20 minutos, Laura levou chutes e pontapés. Enquanto as duas batiam com fúria ensandecida, uma delas, a maior (mede cerca de 1,80m), dizia: “Isso é pra você aprender a não se meter mais no que não é da sua conta”. E bradava mais, debochadamente, segura da impunidade: “Não vai acontecer nada comigo. Sou de menor (sic). Sou mulher de malandro do Céu Azul (cidade de Goiás, perto do Gama, onde as duas moram)...”
Caída no chão, Laura levou mais chutes, mais pontapés. Mais covardia. Sentiu um jato quente de sangue escorrendo pela barriga. O gosto amargo veio à boca. Depois, um frio lhe invadiu o corpo. Pernas e braços adormeceram. Falta de ar. Levada às pressas ao Hospital Regional do Gama (HRG) — salva graças à aparição de um policial do Batalhão Escolar, que por ali passava e conseguiu terminar com a sessão de espancamento —, lá, vomitou sangue. A urina também era puro sangue. Foi operada com urgência.
Não houve nem tempo de ser transferida para o Hospital de Base. Uma hemorragia interna arrebentou quase todos os órgãos da menina. Antes de entrar na sala de cirurgia, ela ainda conseguiu perguntar à médica: “Eu vou morrer, doutora"”. A médica, muito honestamente, lhe respondeu: “Vou lhe falar a verdade. Seu caso é muito grave, mas Deus existe”. E a menina entrou sem saber se voltaria. Por mais de três horas, a habilidosa equipe do HRG tentou conter a hemorragia que não cessava. Laura perdeu parte do fígado. E deslocou o pâncreas. Saiu dali com um corte vertical de ponta a ponta na barriga. Está viva.
Três dias depois da selvageria, uma das adolescentes voltou à escola e narrava aos colegas, em tom de engrandecimento e chacota, o que tinha feito com Laura. Para ela, segundo relatos, ainda havia batido pouco. A menina merecia mais. Alguns riram. Os mais ligados às agressoras ouviram-na como se as duas fossem heroínas. Laura estava no hospital, ainda tentando sobreviver.
Rixa passada
Para entender por que Laura apanhava e ouvia que precisava aprender a não se meter mais no que não lhe dizia respeito, é preciso voltar no tempo, mais precisamente em 28 de abril deste ano. Naquela manhã, dentro da sala de aula, uma das agressoras brigava com uma amiga de Laura, que tentou separá-las. Sobrou pra ela. Laura teve o braço deslocado. Precisou usar tala por duas semanas. Não contente, a agressora ainda jurou, olhando a menina que tentou terminar a briga: “Não vou deixar isso barato”.
Dias depois, dizendo-se condoída, a agressora chamou Laura para uma conversa. Se disse arrependida. Pediu-lhe desculpas. Prometeu ser sua amiga novamente. Laura acreditou. “Eu pensei que era verdade”, lembra. Em casa, correu para comentar o que tinha acontecido na escola. A avó, Elisa Vieira, 74 — que a cria como se filha fosse desde a morte do pai, há 12 anos —, comemorou. E pensou, tomando mais um dos 16 comprimidos que usa para controlar o coração depois da doença de Chagas: “Que bom que a paz voltou a reinar”.
Ledo engano. As agressoras preparavam meticulosamente a vingança. Quatro meses depois, ouviram Laura combinado com a melhor amiga da sala que, depois da escola, as duas passariam na sorveteria perto dali. Fizeram o prometido. No meio do caminho, elas foram cercadas pelas duas meninas. A amiga conseguiu escapar e tentou pedir socorro. Laura não teve a mesma sorte. Começou a levar socos e pontapés, com ira, das duas adolescentes que queriam deixar marcas profundas. Conseguiram.
Punição
Na tarde meio nublada da última terça-feira, o Correio encontrou Laura — menina bonita, de pele cor de canela, olhos amendoados e sorriso encantador — na casa modesta onde mora com a avó, no Setor Sul do Gama. Depois de oito dias internada, recebeu alta. Anda com muita dificuldade e a barriga ainda está inchada. Precisa falar pouco. Ela recebeu a equipe no seu quarto, decorado com três bonecas — duas dela e uma da irmã mais nova, com quem divide o mesmo espaço — e uma imagem enorme de Nossa Senhora Aparecida em cima de um criado-mudo. Perto da santa, uma vela acesa, promessa da avó.
Emocionada, Laura contou que recebeu a visita da primeira professora e das três melhores amigas da sala. E confessou, envergonhada, que ainda conversa com suas bonecas, antes de dormir. Para conter dores e evitar infeções, toma cinco remédios diferentes por dia. Alimenta-se à base de sopas e caldos. E tem rezado para a mesma santa de devoção da avó. Com sinceridade comovente, ela diz: “Às vezes, não sinto vontade de viver. Tenho pesadelos, sonho que elas estão me batendo de novo”. Seu tio, o radialista Arailson Santos, 47, que acompanhou a entrevista e ajudou a criar a sobrinha, retrucou: “Você vai superar tudo, não diga isso”.
Ironia do destino
Laura ficará afastada do colégio por, no mínimo, 30 dias. Vai retirar os pontos na segunda quinzena deste mês. “Eu gosto muito da escola. Gosto das minhas amigas. Gosto de escrever e de ler, de fazer redação. É muito ruim ficar assim”, diz. Em tempo: depois da sessão de espancamento, as adolescentes foram levadas à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), ouvidas pela delegada e liberadas. Cabe agora ao juiz da Vara da Infância e da Juventude (VIJ) determinar ou não alguma medida socioeducativa. Na escola, a punição foi mais rápida. Transferiram-nas.
Sobre o sentimento dela em relação às agressoras, Laura não hesita: “Tenho dó das duas”. E continua: “Foi mais que violência ou estupidez. Foi um crime. Elas planejaram tudo com muito tempo. Mas acho que ir pro Caje não vai adiantar nada. Podem sair daquele lugar pior do que entraram, mais monstruosas”. Há punição, então" “Elas precisam parar e pensar no que fizeram . Não devem mais machucar ninguém como me machucaram”. E pede à santa que a avó lhe ensinou a rezar: “Nunca mais gostaria de ver as duas”.
Sonho frustrado
Há um ano e seis meses, Laura foi morar com uma tia, no Rio de Janeiro. Encantou-se com a cidade. Estudou, fez amigos, dança de salão, inglês, conheceu o mar e se divertia muito com as descobertas de um lugar muito diferente do Gama. “Morava na Tijuca e estudava no Flamengo.” Um dia, porém, voltando da escola, o encanto se espatifou. Assistiu a um assalto. Correu de tiros. Sentiu medo. E decidiu que, mesmo com tanta beleza, poderia ser perigoso viver ali.
Ligou para a avó e pediu para voltar. “Fiquei com medo da violência”, ela diz. Retornou ao Gama, no começo do ano. Pensou que aqui, perto da avó, estaria protegida do mal. Enganou-se. Saindo da escola, não se deparou com assaltante nem ouviu tiros. Foi atacada brutalmente por duas colegas da sala. Apanhou tanto que vomitou sangue e quebrou-se inteira por dentro. Sobreviveu, cheia de cicatrizes, que ficarão por fora e na alma. Em frangalhos, ainda tem força para esboçar um sorriso cheio de dor e fazer planos: “Quero fazer direito e ser juíza”. Que a vida verdadeiramente seja generosa para Laura.
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Do Terra Brasil
Brasil já tem tecnologia para desenvolver bomba atômica
VASCONCELO QUADROS
Uma revolucionária tese de doutorado produzida no Instituto Militar de Engenharia (IME) do Exército - Simulação numérica de detonações termonucleares em meios Híbridos de fissão-fusão implodidos pela radiação - pelo físico Dalton Ellery Girão Barroso, confirma que o Brasil já tem conhecimento e tecnologia para, se quiser, desenvolver a bomba atômica. "Não precisa fazer a bomba. Basta mostrar que sabe", disse o físico.
Mantida atualmente sob sigilo no IME, a pesquisa foi publicada num livro e sua divulgação provocou um estrondoso choque entre o governo brasileiro e a Agência Internacional de Energia Atômica (AEIA), responsável pela fiscalização de artefatos nucleares no mundo inteiro. O pesquisador desenvolveu cálculos e equações que permitiram interpretar os modelos físicos e matemáticos de uma ogiva nuclear americana, a W-87, cujas informações eram cobertas de sigilo, mas vazaram acidentalmente.
Barroso publicou o grosso dos resultados da tese no livro A Física dos explosivos nucleares (Editora Livraria da Física, 439 páginas), despertando a reação da AIEA e, como subproduto, um conflito de posições entre os ministros Nelson Jobim, da Defesa, e Celso Amorim, das Relações Exteriores. A crise vinha sendo mantida em segredo pelo governo e pela diplomacia brasileira.
A AIEA chegou a levantar a hipótese de que os dados revelados no livro eram secretos e só poderiam ter sido desenvolvidos em experimentos de laboratório, deixando transparecer outra suspeita que, se fosse verdade, seria mais inquietante: o Brasil estaria avançando suas pesquisas em direção à bomba atômica.
A AIEA também usou como pretexto um velho argumento das superpotências: a divulgação de equações e fórmulas secretas, restritas aos países que desenvolvem artefatos para aumentar os arsenais nucleares, poderia servir ao terrorismo internacional. Os argumentos e a intromissão da AIEA nas atividades acadêmicas de uma entidade subordinada ao Exército geraram forte insatisfação da área militar e o assunto acabou sendo levado ao ministro da Defesa, Nelson Jobim.
No final de abril, depois de fazer uma palestra sobre estratégia de defesa no Instituto Rio Branco, no Rio, Jobim ouviu as ponderações do ministro Santiago Irazabal Mourão, chefe da Divisão de Desarmamento e Tecnologias Sensíveis do MRE, numa conversa assistida pelos embaixadores Roberto Jaguaribe e Marcos Vinicius Pinta Gama. A crise estava em ebulição.
Jobim deixou o local com o texto de um documento sigiloso entitulado Programa Nuclear Brasileiro - Caso Dalton, entregue pelo próprio Mourão. Mandou seus assessores militares apurarem e, no final, rechaçou as suspeitas levantadas, vetou o acesso da AIEA à pesquisa e saiu em defesa do pesquisador.
Num documento com o carimbo de secreto, chamado de Aviso 325, ao qual o Jornal do Brasil teve acesso, encaminhado a Celso Amorim no final de maio, Jobim dispara contra a entidade. "A simples possibilidade de publicação da obra no Brasil e sua livre circulação são evidência eloquente da inexistência de programa nuclear não autorizado no País, o que, se fosse verdade, implicaria em medidas incontornáveis de segurança e sigilo", criticou o ministro no documento.
Diplomacia
Amorim teria assumido uma posição dúbia, tentando contornar a crise sugerindo que o pleito da AIEA fosse atendido, pelo menos em parte, como convém sempre à diplomacia. A entidade queria que o livro fosse recolhido e exigiu dados mais detalhados sobre o método e as técnicas utilizadas pelo físico brasileiro. Insistia que o conteúdo do livro era material sigiloso. Jobim bateu o pé e, em nome da soberania e da clara opção brasileira de não se envolver na construção de arsenais nucleares - explicitada na Constituição - descartou qualquer interferência no setor.
Situado na Praia Vermelha, o IME é um órgão de pesquisa básica, com curso de pós-graduação e extensão universitárias para civis e militares, subordinado ao Comando do Exército. O ministro citou a banca examinadora do IME, formada por seis PhDs em física, entre eles o orientador de Barroso, Ronaldo Glicério Cabral, para garantir que a tese é trabalho teórico e sem vínculo com qualquer experiência realizada no Brasil. Jobim citou o respeito a tratados para afirmar que o Brasil tem credibilidade para pesquisar "à margem de suspeições de qualquer origem".
Jobim enfatizou ainda que o recolhimento compulsório do livro, como queria a AIEA, implicaria em grave lesão ao direito subjetivo protegido pela Constituição. Em outras palavras, seria uma censura a uma obra acadêmica com a chancela do governo Lula. E ainda criticou a entidade que, segundo ele, não justificou os comentários sobre a obra e nem apresentou base científica para amparar o questionamento.
A crise é uma ferida ainda não cicatrizada. Jobim não quis dar entrevista sobre o assunto, mas confirmou que encaminhou o documento ao Ministério das Relações Exteriores, responsável pelas conversações diplomáticas com entidades como a AIEA. Procurado pelo Jornal do Brasil, Amorim não retornou. O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) - o órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia responsável pelo apoio aos inspetores da AIEA - Odair Dias Gonçalves, também não quis falar.
JB Online
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Da Agência Brasil
Educação integral chega a 85% das escolas e é destaque entre políticas chilenas, diz secretário
Entre os países da América Latina, o Chile pode ser considerado um modelo de boa educação. Destaque em avaliações internacionais, foi o país melhor colocado no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) nos últimos três anos.
Em visita a Brasília para participar de um encontro de ministros, o secretário executivo do Ministério da Educação chileno, Cristian Martinez, enumerou alguns fatores que podem justificar o sucesso do país. Entre eles está a educação em tempo integral, oferecida em cerca de 85% das escolas do país.
De acordo com Martinez, o Chile tem cerca de 3,8 milhões de alunos na rede pública – números modestos perto dos mais de 53 milhões do Brasil. A taxa de evasão na educação primária, equivalente ao nosso ensino fundamental, é de pouco mais de 1% e o analfabetismo atinge 3,8% da população maior de 15 anos. No Brasil, o índice é de 10%.
As crianças chilenas entram na escola aos 6 anos e cumprem obrigatoriamente 12 anos de estudos, até o ensino secundário. No Brasil, o ensino médio ainda não é obrigatório e a escolaridade compreende apenas a faixa etária dos 7 aos 14 anos.
Em entrevista à Agência Brasil, Martinez fala da experiência chilena e diz que o país também tem o que aprender com o Brasil.
Agência Brasil: Quais são os principais diferenciais que garantem os bons resultados da educação no Chile"
Cristian Martinez: A principal diferença é que faz muitos anos, mais de 40 anos, que se fez um acordo político entre todos os setores - de oposição e de governo - para que a educação fosse um eixo fundamental na política de desenvolvimento do país. Por isso que os esforços em educação têm sido permanentes, não importa o governo que muda. Os programas são mantidos e há muitos investimentos em educação. Nos últimos 10 anos, o orçamento da educação mais do que triplicou. Além disso, houve a decisão de estender a jornada escolar e as crianças tem mais horas na escola. Isso significou investir em novos colégios, ampliar os que já existem , investir em mais horas-aulas para os professores e em outras metodologias educativas.
ABr: Quais são os desafios da educação no Chile agora"
Martinez: Agora o desafio é aprofundar na qualidade. Já temos a cobertura, temos uma infraestrutura muito boa e os programas de apoio estão funcionando bastante bem. O desafio agora é formar melhor os nossos professores e garantir uma educação com mais qualidade.
ABr: O que precisa vir primeiro: garantir que todos estejam na escola ou uma educação de qualidade"
Martinez: Acredito que o acesso à escola já marca uma diferença, avançar em cobertura é muito importante. Temos que pensar nesse avanço da cobertura aliada à qualidade, mas acredito que o principal é tirar as crianças da rua e levá-las à escola. Abrindo as portas de umas escola a criança pode deixar a rua, estar em um colégio, aprender, estar mais protegida e podemos focalizar em políticas de alimentação, vestuário e outras. A primeira fase de qualquer política deve ser a de abrir portas e ganhar a luta contra as ruas. E a fase seguinte deveria ser aprofundar a qualidade. O Chile tem uma boa cobertura no ensino básico, tanto o primário quanto o secundário. Hoje estamos abrindo muitas portas para as crianças em fase pré-escolar. Se não há recursos suficientes, há que priorizar a abertura dessas portas, para logo aprofundar em qualidade.
ABr: O que o Brasil e outros países da América Latina poderiam aprender com a experiência chilena"
Martinez: Uma das coisas é o currículo que implementamos nos últimos anos. Ele é bastante flexível e pode ser adaptado de acordo com as necessidade das regiões e dos colégios. Há uma certa autonomia para que os colégios possam adaptar os planos e os programas. Mas o principal, eu acredito, é o efeito positivo da garantia da jornada estendida. A decisão de passar de duas jornadas – manhã e tarde – para uma jornada completa teve um grande impacto. Cerca de 85% dos colégios do Chile estão nessa situação. São muito mais horas de classe, maior permanência dos alunos e melhores resultados. Agora temos que aprofundar mais em qualidade e na formação de professores.
ABr: Qual é o objetivo do encontro com os outros ministros aqui no Brasil"
Martinez: Nossa intenção é sempre conhecer o que está acontecendo na América Latina, temos uma disposição para compartilhar e conhecer boas práticas de outros países, creio que o Brasil tem muito a mostrar sobre o que tem feito em educação.
ABr: Quais projetos do Brasil interessam ao Chile"
Martinez: O Bolsa Família é muito interessante, é um projeto muito potente. Os programas de alfabetização também são importantes. Apesar de praticamente toda a população do Chile estar alfabetizada, há zonas rurais em que é difícil chegar. As metodologias de ensino e as tecnologias de informação que estão sendo utilizadas aqui são muito interessantes. Vamos seguir compartilhando essas experiências.
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Professores de 64 municípios já podem financiar compra de computador pela Caixa
Da Agência Brasil
Professores das redes pública e privada de qualquer nível de ensino de 64 municípios já podem obter crédito para a compra de computadores portáteis. O financiamento faz parte do Programa Brasileiro de Inclusão Digital do governo federal.
Os computadores serão financiados pela Caixa Econômica por meio de três linhas de crédito: consignação em folha, Computador para Todos e Financiamento de Equipamentos de Informática (BCD), com prazos que variam entre 6 e 24 meses e taxas de 1,89% a 2,2% ao mês.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) ficará responsável pela operacionalização do programa, disponibilização dos meios para o registro, gestão, rastreabilidade e entrega dos pedidos de soluções de informática para os professores e pela logística de pedido e entrega do equipamento.
Entre os 64 municípios que serão contempladas com financiamento da Caixa nesta primeira etapa, estão aqueles que obtiveram maior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) em cada um dos estados (um em cada unidade da Federação, exceto o Distrito Federal). Também fazem parte desse grupo as cidades que mais se destacaram na pesquisa sobre Redes de Aprendizagem, realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o Ministério da Educação. A lista dos municípios está disponível no site dos Correios.
Os equipamentos que serão financiados possuem valor máximo de venda de R$ 1,4 mil e devem ser escolhidos também pelo site.
Os professores poderão financiar a aquisição nas agências da Caixa situadas nos municípios selecionados. Para fazer a avaliação de crédito na agência bancária, o professor deve levar: documento de identidade e CPF, comprovantes de renda e de endereço, declaração da instituição de ensino, contendo o código Inep e código do equipamento escolhido no site.