O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, tornou-se feriado nacional em 2024 e integra oficialmente o calendário escolar desde 2003. A data surgiu de mobilizações do movimento negro e consolidou-se como referência para discutir desigualdades, identidade brasileira e o papel das instituições públicas na promoção da equidade racial.
No ensino superior, esse debate se articula às Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que estabelecem o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena. Na Universidade Estadual de Goiás (UEG), esse arcabouço legal orienta políticas de acesso e uma série de ações de ensino, pesquisa e extensão.
Desde 2005, a UEG adotou sistema de cotas e está entre as pioneiras do país. Atualmente, 50% das vagas são reservadas a estudantes cotistas, sendo 20% destinadas à população negra, formada por pessoas pretas e pardas. Mais de 30 mil estudantes já ingressaram pela política ao longo dos anos.
A Comissão Permanente de Acompanhamento e Avaliação da Implementação da Política de Cotas atua em todas as unidades e acompanha o processo previsto pela legislação estadual, garantindo o cumprimento das regras e a análise documental dos candidatos.
O prof. Roberto Barcelos, pró-reitor de Graduação destacou o conjunto de ações como um compromisso da universidade com a inclusão e com a equidade. “As políticas de acesso e ações afirmativas são fundamentais para garantir e corrigir as desigualdades históricas que nós vemos no nosso país. A diversidade, dentro do contexto universitário, qualifica o ensino. Você tem pluralidade de ideias e informações que podem colocar elementos que nos levam a entender o papel social da universidade e de transformação da sociedade”, afirmou.
O aumento da autodeclaração racial entre estudantes matriculados acompanha uma tendência nacional observada após a consolidação do 20 de novembro como data de referência em 2011.
Gráfico produzido a partir de dados disponíveis em dados.ueg.br
Em 2011, a porcentagem de estudantes que optava por não declarar cor/etnia era de 71,3%. Em 2025, esse número caiu 25,2%, ao mesmo tempo em que o número de alunos autodeclarados pretos e pardos subiu de 17,9% para 42,2% no mesmo período.
Produção acadêmica e relações étnico-raciais
A pauta racial tem ocupado espaço crescente na pesquisa universitária. Em 2025, a UEG mantém estudos sobre audiovisual negro brasileiro, territorialidades quilombolas, saúde mental da população negra, literatura de autoria negra, racismo ambiental, religiões de matriz africana e memória afro-indígena.
Os projetos abrangem diferentes áreas do conhecimento e analisam desde desigualdades estruturais até produções culturais e artísticas, ampliando o campo de investigação sobre relações étnico-raciais.
As ações de extensão também reforçam esse movimento. Projetos voltados à formação de professores, ao letramento racial e ao debate sobre direitos humanos aproximam a universidade de escolas públicas, comunidades quilombolas e povos tradicionais.
A Tenda Multiétnica, realizada anualmente durante o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) reúne etnias do Cerrado goiano e discute temas como território, clima, modos de vida, produção de alimentos e saúde, incorporando diferentes perspectivas socioculturais ao debate universitário.
Diálogos Negros
Viviane Gomes Bonifacio é professora dos cursos de Química do Câmpus Central - CET - Henrique Santillo, em Anápolis e destaca um aumento importante na presença de estudantes negros na UEG nos últimos anos. “Muitas vezes vejo jovens negros chegando à universidade carregando sonhos enormes, mas também inseguranças e a sensação silenciosa de que esse espaço nem sempre foi pensado para eles. Como professora, isso me toca profundamente”, afirmou.
A professora coordena o projeto “Diálogos Negros”, que busca conversar sobre identidade, história, resistência, vivências e todas as camadas que atravessam a experiência negra na universidade. “Nos encontros, discutimos textos de autores e autoras negras, compartilhamos vivências, aprofundamos temas como representatividade, fragilidade branca, tornar-se negro, epistemologias negras e desigualdades raciais. A cada reunião, percebo como esse espaço tem sido transformador para mim e para os estudantes”, explica a professora.
O objetivo a médio-prazo é transformar o grupo no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab|UEG), que atuar institucionalmente na formação, na pesquisa, na extensão e no apoio aos estudantes negros, fortalecendo o compromisso da UEG com uma educação verdadeiramente inclusiva, crítica e antirracista.
(Comunicação Setorial|UEG)