O mês de outubro foi marcado por intensas atividades do projeto “Condefé tem cagaita e gabiroba no Cerrado”. Este é o período em que as cagaiteiras do estado estão carregadas – e, como se sabe, esses saborosos frutos permanecem por pouco tempo nas árvores. “Condefé” são encontrados caídos ao chão, e só no próximo ano será possível apreciar novamente seus sabores únicos.
Pensando nisso, a equipe do projeto se mobilizou em três expedições de campo somente neste mês. O objetivo foi realizar coletas de cagaitas para dar continuidade aos estudos de pós-colheita e para a realização de uma oficina sobre coleta sustentável e processamento da cagaita com as famílias dos assentamentos Presente de Deus e Itajá, no Vale do São Patrício, em Goianésia.
Por isso, no último dia 4 de outubro, parte da equipe foi mobilizada para o município, a fim de levar os equipamentos necessários à realização da oficina. Uma despolpadeira semi-industrial, uma câmara fria para armazenamento de frutos, uma máquina seladora, caixas térmicas e utensílios foram alocados em um espaço cedido pela Secretaria de Agricultura de Goianésia para as atividades das associações de agricultores familiares dos assentamentos Presente de Deus e Itajá.


Já no dia 8 de outubro, a equipe do projeto realizou a coleta de cagaitas nas regiões de Goianésia, Rianápolis e Jaraguá. Parte dos frutos foi destinada aos estudos de avaliação das melhores formas de acondicionamento e conservação pós-colheita, com o objetivo de reduzir perdas, preservar a qualidade e prolongar a vida útil. Esses estudos estão em andamento no Laboratório de Pós-Colheita da Universidade Estadual de Goiás (UEG), sob orientação do professor André José de Campos, e buscam testar diferentes tipos de embalagens para o armazenamento da cagaita. Outra parte dos frutos foi refrigerada e congelada para utilização na oficina.
Do fruto ao pote
A oficina intitulada “Do fruto ao pote” foi realizada no dia 18 de outubro, na Secretaria de Agricultura da Prefeitura de Goianésia. O objetivo foi proporcionar uma experiência prática sobre o processamento de frutos do Cerrado, especialmente cagaita e gabiroba, com orientações sobre coleta sustentável dos frutos em campo, transporte até o local de processamento, limpeza e higienização dos frutos, despolpação, utilização da polpa para produção de geleia e aproveitamento do bagaço para obtenção de bioprodutos.
Além da equipe do projeto, participaram da oficina as presidentes dos assentamentos Presente de Deus e Itajá, Ana Rita Vieira e Leuza Maria Souza; famílias de ambos os assentamentos; o secretário de Agricultura de Goianésia, Marcos Portilho da Cunha; e o professor Fernando Lobo Lemes, do Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (Teccer|UEG).

Embora a oficina tivesse como foco principal aspectos técnicos, o encontro foi marcado por momentos de trocas significativas e emoções intensas. “À medida que nos aproximamos da conclusão das atividades dos dois primeiros anos desse gratificante projeto, sentimos a necessidade de expressar e compartilhar as impressões, os aprendizados e as transformações vivenciadas ao longo dessa trajetória”, afirma a coordenadora do projeto, profa. Dra. Joelma Abadia Marciano de Paula, que destaca:
“Nas falas de agricultores, acadêmicos e representantes do poder público, ficou evidente a preocupação comum com o Cerrado e sua conservação. Apesar das diferentes trajetórias, compartilhamos o mesmo bioma-território – e é justamente nesse encontro que reside a força para avançarmos de forma mais concreta e transformadora”
A oficina foi finalizada com uma roda de conversa ao sabor de geleia de cagaita com queijo fresco, produzido pelas famílias dos assentamentos rurais.
Sobre o projeto
O projeto “Condefé tem cagaita e gabiroba no Cerrado” foi proposto por pesquisadores da UEG em chamada pública da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), em parceria com a Fundação Grupo Boticário. A iniciativa teve início em janeiro de 2024 e segue até dezembro de 2025, com foco na valorização dos frutos nativos do Cerrado e no desenvolvimento de práticas sustentáveis de coleta, processamento e conservação, voltadas à geração de renda para agricultores familiares da região do Vale do São Patrício.
O nome “Condefé” é uma expressão popular goiana, derivada da forma abreviada de “Quando dei fé”, usada para expressar surpresa. De acordo com a equipe do projeto, o termo traduz bem a experiência de quem, de forma inesperada, se depara com a abundância - ou a ausência - de frutos como cagaita e gabiroba no Cerrado. Assim, “Condefé” sintetiza tanto o encanto de encontrar essas frutas típicas quanto a frustração de perceber, de repente, que a época da colheita já passou.






(Comunicação Setorial|UEG, com informações do "Condefé")