“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”, esse verso de Cora Coralina, feito em outrora, pode ser facilmente usado para definir um pouco do que foi a 24ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) na Cidade de Goiás, berço da autora. É inegável a relevância que o Festival possui para a cidade, as universidades e a comunidade na transmissão de conhecimento, mas, mais do que isso, ele representa muita expectativa para um público específico: os alunos de cinema e audiovisual.
Pensando neles, a Universidade Estadual de Goiás esteve à frente também da Semana de Cinema e Audiovisual (SAU), um projeto da Unidade Universitária de Goiânia Laranjeiras que já está na 12ª edição. O evento, que foi realizado em paralelo com o 2° Encontro das Escolas de Cinema e Audiovisual do Brasil Central, possui caráter científico e cultural que propõe e cumpre com a missão de reunir discentes, docentes, profissionais e a comunidade para discutir os caminhos dessa área. Tudo isso por meio de palestras, oficinas e mesas-redondas durante toda a semana do Fica.
Um dos grandes responsáveis pela organização e viabilização da vinda dos estudantes para os eventos foi o professor da UEG, Marcelo Costa. Segundo ele, é muito significativo para a Universidade a participação efetiva dos estudantes em todas as atividades. "Tanto o festival, quanto o nosso curso são forças dentro do Estado para pensar o cinema e o audiovisual de forma muito qualificada. A partir desse encontro, trazemos mais pessoas para discussão da temática voltada para as questões ambientais". Assim, esse encontro de estudantes com pesquisadores de toda a região Centro-Oeste do Brasil pensando o cinema ambiental, bem como as políticas públicas do audiovisual pela perspecitiva de formação de novos realizadores é motivo de muita celebração para a Universidade Estadual de Goiás.
“Nos sentimos acolhidos e motivados a crescer nesse mercado que nós mesmos construímos”. A fala da aluna Samara do primeiro período de cinema e audiovisual da UnU Laranjeiras, ilustra a expectativa e relevância do Fica na carreira de cada um. Ela, participando pela primeira vez, já acumula experiências positivas. "Assisti a mostras, participei de oficinas, conheci pessoas para além do nosso curso e Estado em um intercâmbio de conhecimento muito interessante”. Sobre a Tenda Multiétnica, Samara comenta: “me imaginei em um filme ou produzindo um cheio de cores, pessoas diferentes e culturas e ao mesmo tempo unidos com um objetivo em comum: a alegria do encontro”, salienta.
Hingred Lopes, de 18 anos, também aluna do curso de cinema e audiovisual participou pela primeira vez do Fica e já consegue perceber o impacto do festival para a sua vida profissional. “Eu vejo como um fôlego a mais com vistas a valorização do cinema no nosso país. É uma oportunidade de evidência para o curso e para nós estudantes”. A aluna ressalta o debate sobre o amplo trabalho que pode ser desenvolvido na área. “Sabemos sobre os segmentos da profissão, mas conhecemos, por meio da SAU, lugares para trabalhar, concursos e caminhos possíveis para seguir", coloca a aluna do primeiro período.
Partindo do princípio de que o Festival trata sobre políticas públicas para o cinema e audiovisual no Centro-Oeste, a aluna Raquel Ashley fala da participação do curso. “A partir do que está acontecendo aqui, outras pessoas interessadas pela área podem conhecer e fazer parte da nossa família UEG e contribuir para as próximas edições também”. E comenta sobre a sua primeira vez participando. “Só de estar aqui conhecendo a cidade e estar vivendo isso que eu escolhi para minha vida está sendo incrível, mas para as próximas vezes, pretendo trazer meus próprios filmes para serem exibidos”, comenta feliz.
No quinto período do curso, Augusto Ramos já esteve no Festival uma outra vez e soma mais experiência para a carreira por meio das palestras, debates e mesas redondas. “Somos o futuro do cinema e audiovisual do país” e chama: "nos próximos anos, venham participar dessa oportunidade única e enriquecedora”.
Além de aproveitar o Festival, a estudante do quinto período, Carol Coppe, fez algumas visitas à famosa sorveteria da Praça do Coreto da cidade e aproveitou a oportunidade do festival para conhecer pessoas que trabalham com cinema. “Fiz muitas coisas, peguei vários contatos que podem ajudar na minha formação e ainda aproveitar para comemorar meu aniversário nessa cidade linda tomando um sorvete de Baru”.
Dois filmes de graduandos de Cinema e Audiovisual da Unidade Universitária de Laranjeiras foram selecionados para participar da Mostra de Cinema Goiano no Fica 2023. Foram o documentário “Garrima”, sob direção de Cleubismar de Jesus, o CDJOTA, e fotografia do aluno Pedro Pazini e o documentário “Rua 8” dos alunos Caique Branco e Laércio Alves. Os documentários foram feitos na disciplina do professor Rafael de Almeida, que enxerga a mostra como uma oportunidade para os alunos do curso.
“Minha história com o Festival Internacional de Cinema Ambiental é longa e veio desde a graduação. Já tive meus filmes apresentados aqui e trazer os alunos, ainda mais com filmes deles, é um motivo de muito orgulho”. Como o professor conta, o Festival é sempre aguardado com muita expectativa pelo corpo docente e pelos alunos e fala do diferencial que essa edição possui. “Nesse ano eu observei muita maturidade do ponto de vista de uma linha curatorial que permeia muitas atividades, além de pensar os processos de programação das atividades com perspectiva mais indígena, reconhecendo a necessidade de falar sobre isso cada vez mais”, conclui.
Os dois filmes que participam aqui são fruto de um trabalho coletivo, pois muitos outros alunos contribuíram na disciplina de realização audiovisual em documentário e que proporciona ferramentas para os alunos construírem narrativas audiovisuais a partir da linguagem documental. “Conseguimos instruir desde a construção do projeto, roteiro, pré-produção, encontro com os personagens, bem como as formas de lidar com o sujeito filmado”. Sobre esse último aspecto, Rafael chama a atenção para a necessidade de passar para os alunos as formas de acolher e romper com a relação de poder estabelecida entre quem filma e quem é filmado. “Assim conseguimos fazer filmes que possam promover as mudanças sociais que a gente quer ver no mundo”.
O professor Rafael também participa do Fica concorrendo na Mostra Internacional Washington Novaes com o filme “Arrorró”. Segundo ele, o curta nasce de material de arquivo produzido para outro filme, mas retomado em um processo interessante de resignificação desse material dez anos depois, dando origem a um novo projeto. “Esse filme fala um pouco sobre a espetacularização dos desastres naturais e pensei em meios para converter isso em uma narrativa para refletir”.
A história traz a erupção do vulcão de La Palma na Espanha que obriga centenas de famílias a abandonar suas casas. E nesse contexto, um refugiado colombiano aproveita o caos e ocupa uma casa vazia na ilha. “Com o abandono dessas casas pelas famílias espanholas, esse refugiado colombiano vê uma oportunidade de moradia, refletindo como esses desastres ecológicos potencializam uma série de desigualdades sociais e econômicas que já existiam em um contexto de imigração forçada de pessoas que saíram de seus países e encontraram ainda mais vulnerabilidade em outros territórios”, salienta o professor Rafael de Almeida.
Participando da fotografia do filme “Garrima”, o aluno do oitavo período, Pedro Pazini, falou um pouco da realização do projeto. “Adaptamos assuntos que a gente vive e gosta, que no meu caso é skate e do CDJOTA hip hop. E tivemos a sorte de encontrar uma pessoa envolvida nesses dois elementos que apesar da dedicação não conseguiu viver disso”.
O objetivo do filme, conforme Pedro conta, é falar da “regra” e não da "exceção". “Fizemos para prestigiar a história do gari e artista goiano, Rhafael Moisés, conhecido como Rapper Yellow, que continua fazendo sua arte, mas que hoje é trabalhador da Companhia de Urbanização do Município de Goiânia (Comurg)”. Rafael conta da surpresa da seleção do filme para compor a mostra. “Não imaginávamos, foi uma surpresa muito boa e, o melhor, fizemos o que a gente gosta e sobre o que a gente gosta”.
Outro filme selecionado foi o documentário “Rua 8”, dos alunos Caique Branco e Laércio Alves. O curta-metragem possui uma temática cultural de ocupação do espaço central urbano. “A gente trata muito sobre a retomada cultural com pessoas de vários segmentos. Fazendo um apanhado do espaço antes e de como está atualmente”, comenta Laércio. De acordo com os estudantes, ambos tinham uma ideia inicial de construção do curta, mas que foi revista assim que chegaram na Rua 8. “Para além de um ponto de encontro da juventude goianiense, o local é marcado pela ocupação urbana das pessoas que estão ali e trabalham lá”, explica Caique.
(Gilnara Peixoto, estagiária de Jornalismo| Comunicação Setorial|UEG)