Esta semana a Universidade Estadual de Goiás completa 22 anos de existência e chega a 2021 reunindo em sua história vários casos de dedicação, superação e conquistas. Casos de pessoas que mesmo em face a dificuldades e obstáculos, não se deixaram vencer e não desistiram de seus sonhos. Casos como o do professor Moisés Pereira da Silva, homem negro, de origem pobre, que saiu de uma pequena cidade no interior do Tocantins para trilhar um caminho acadêmico de sucesso que começa em 2004, em Uruaçu, no Câmpus Norte da UEG.
Segue abaixo o inspirador relato do professor Moisés:
"Nasci de família muito pobre e parte da minha infância foi num barraquinho de palha, muito simples, na periferia de Xambioá-TO, uma cidade que além de pobre, foi marcada pela Guerrilha do Araguaia.
Haviam, ali, dois futuros possíveis para mim: uma vida marginal na cidade ou "arrumar" uma mulher e ir trabalhar em alguma fazenda em condições subumanas e sob a exploração dos fazendeiros locais.
Ter conhecido um professor que me ensinou o gosto pela leitura interrompeu a triste sina à qual eu já quedava conformado. A literatura me levou ao amor à História, e hoje eu sei que isso ocorreu porque a História também é feita de tramas. Sempre quis estudar História, mas esse amor, nutrido desde a adolescência, foi prorrogado muitas vezes porque aprender a ler e gostar de ler não faz ninguém deixar de ser pobre. E por isso, precisava trabalhar.
Em 2004, depois de ter feito o magistério e ser aprovado num concurso para professor da Prefeitura de Niquelândia-GO, pude finalmente cursar História, em Uruaçu.
Minha trajetória acadêmica foi marcada pela dedicação. Dedicação minha e dos bons professores que tive na UEG. Enfatizo, bons professores, bons servidores administrativos. Saudades da minha UEG.
Fiz História e Pedagogia ao mesmo tempo, História, regular, durante a semana, e Pedagogia "parcelada", nos fins de semana. Entendia que dos dois cursos dependiam uma boa docência. Mas História era mais que ilustração, era o meu projeto de vida. Fui dedicado porque tinha consciência da importância da História e do que viria depois: ser um professor tão bom quanto eu pudesse ser.
Ao final do curso, antes da colação de grau, fui aprovado num concurso Estadual, no Pará. Um ano depois entrei no Mestrado da UFG, em Goiânia. E no último ano do mestrado, mas antes da qualificação, passei no Concurso para professor efetivo da UEG, tendo sido nomeado em junho de 2012. Chegando à UEG me senti desafiado a continuar estudando. Entendo que o professor universitário precisa fazer mestrado e doutorado; como não tinha doutorado, fiz, naquele ano, a seleção e fui aprovado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com um projeto sobre Trabalho Escravo Contemporâneo.
Trabalhar na UEG foi uma experiência ímpar, momento de muito, muito orgulho. Eu realmente sou apaixonado pela UEG, por me ter possibilitado estudar História, pela convivência com alguns professores, pelo ir e vir entre Niquelândia e Uruaçu no tempo de aluno, pelos amigos e colegas. A docência na UEG foi um tempo criativo, tempo de alegrias, mas também tempo de desafios e, com isso, de alguns equívocos. Erros e acertos que contribuíram para o amadurecimento da minha identidade docente no contexto do magistério superior.
Entre o final de 2017 e início de 2018 fiz concursos em 3 Universidades Federais tendo sido aprovado nas 3; duas aprovações em primeiro lugar. Assim, tomei posse e sou hoje professor da Universidade Federal do Tocantins.
O mercado de trabalho está aí, fechado, competitivo, selvagem. Mas sobrando lugar para quem tem responsabilidade de tornar-se competente para enfrentar. Nunca quis ser "dador" de aula. Quis ser professor e isso, como diz Paulo Freire, requer competência teórica e política.
Pelo amor à docência e a consciência de encará-la como militância, precisei me formar e, além do mestrado e doutorado, fiz especializações Lato Sensu e, sempre que posso, estudo. Hoje não é mais por título, hoje é porque ser aluno, aprender, em si mesmo, já é bom, é rejuvenescedor.
A UEG possibilitou a mim – e sou convicto de que sem a UEG meu projeto de vida teria sido adiado por muito mais tempo – e também para muitos goianos, ou talvez se devesse dizer para o Centro-Oeste, para aqueles que têm na miséria o seu lugar comum, a possibilidade de ascensão dessa condição."
(Comunicação Setorial|UEG)