Por Fernando Matos
- Mas eu não falo Libras!
Foi a única coisa que consegui responder quando descobri que entrevistaria uma estudante surda. Passado o susto inicial, veio a constatação: não estou preparado para lidar com as diferenças como imaginava - algo que tinha ignorado até esse momento. “Deveria ser algo do qual não precisaríamos mais falar hoje. Mas que continua a ser um tema urgente a ser debatido”, analisa a professora Maria Olinda Barreto, pró-reitora de Graduação da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Kamila Santos Castro, surda, 18 anos, estudante do curso de Engenharia Civil do Câmpus Anápolis de Ciências Exatas e Tecnológicas (CCET), sabe exatamente como é a questão. Ela e a irmã são as duas únicas pessoas surdas da família. “A minha mãe fala um pouco de Libras”, conta, referindo-se à Língua Brasileira de Sinais. Tímida, a estudante explica que dos cinco aos catorze anos fez terapia com fonoaudiologia, mas que, apesar de oralizar, nem sempre se sente confortável. “Eu tenho vergonha quando não sou acostumada”.
As diferenças estão postas, isso é um fato. Não apenas no campo da linguagem, como no caso da comunidade surda, mas também de ordem social, econômica, racial, de gênero, sexualidade, origem e de tantas outras que, em alguma medida, marcam sujeitos e os colocam fora do espectro da dita “normalidade”. E como incluir esse diferente?
Essa é uma pergunta cuja resposta é a todo momento buscada na UEG. “A Universidade precisa manter as discussões e ampliar as suas ações no sentido de quebrar preconceitos históricos arraigados na sociedade”, afirma a professora Maria Olinda, para quem o espaço universitário também é um campo de disputas sociais.
Esse entendimento é primordial para entender os mecanismos que a Instituição tem implantado nos últimos anos em busca de um ambiente mais acolhedor e solidário. É o caso da disciplina Diversidade, Cidadania e Direitos, obrigatória a todos os cursos e que discute as relações estabelecidas pelas diferenças na sociedade.
Regina Maria Silva, 29, técnica administrativa no Câmpus Anápolis de Ciências Socioeconômicas e Humanas (CSEH), sabe bem a importância dessa discussão no ambiente acadêmico. A mineira passou a infância em um orfanato, o qual ela chama de casa, e durante muito tempo teve problemas com autoaceitação.
“Eu não me reconhecia em pessoas negras. Eu me sentia rejeitada. Só na universidade que eu vim me entender como negra. Apesar de ainda enfrentar alguns problemas pontuais, a UEG é um ambiente acolhedor”, afirma.
A professora Maria Olinda é categórica ao afirmar o papel transformador de uma educação que contempla as diferenças. Para ela, se trata, sobretudo, da construção das bases de uma sociedade mais justa e igualitária. “A formação de uma cultura de paz é fundamental para que seja feita uma curva à barbárie. E é disso que se trata: cultura! O nosso trabalho é em função dessa transformação”, pondera.
Nesse sentido, a inclusão não é apenas uma resposta, mas um projeto que caracteriza a própria Universidade. “Quando assumimos essa posição nós dizemos: ‘buscamos superar as assimetrias sociais via educação superior, uma vez que a universidade é um local privilegiado para o pensamento crítico e de produção de conhecimentos que transformam a sociedade’. E é esse o nosso papel”, atesta o reitor, professor Haroldo Reimer.
“A Universidade tem crescido nesse sentindo e criado oportunidades para pautar a questão. O grande salto foi a inclusão dessa disciplina, desde 2015. Quando nós abrimos essa porta, as pessoas passaram a ter oportunidade de se colocar no espaço público”, analisa o professor Flávio Alves Barbosa, coordenador pedagógico do CCET.
“Ninguém aprende sendo infeliz e não sendo quem é” avalia o pró-reitor de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis, professor Marcos Torres, que completa: “um ambiente plural caracteriza o mundo e, portanto, a própria Universidade”.
Se você, leitor, chegou até aqui, deve estar curioso sobre o significado do título dessa matéria. Ele quer dizer: as diferenças se encontram na UEG! E se você ficou incomodado com o formato que demos ao título, é mais uma prova de que a discussão sobre as diferenças é urgente.
A universidade é importante, tem surdos acadêmicos para ter um bom profissional no futuro, também nós podemos escolher os cursos diferentes e não só LETRAS LIBRAS.
Eu sou Kamila Santos Castro, surda, tenho 18 anos de idade, passei no vestibular, curso de Engenharia Civil, quando eu tinha 17 anos de idade. A UEG me recebeu, mas não tinha intérprete na instituição e após três semanas a UEG contratou. A universidade é importante, tem surdos acadêmicos para ter um bom profissional no futuro, também nós podemos escolher os cursos diferentes e não só LETRAS LIBRAS. Nós não somos diferentes de vocês ouvintes, somos iguais, mas a vivência dos surdos dentro na universidade é difícil, há muitas barreiras, precisamos enfrentar todas as dificuldades, tem alguns professores que não têm conhecimento como ser professores para os alunos diversidades. Nós queremos ter acessibilidade e respeitar as línguas diferentes. Tenho sonho todas universidades saber sua segunda língua oficial no Brasil é LIBRAS, para os surdos tem desejo ir na universidade todo dia até formar. A formação dos surdos é um grande vitória para comunidade surda.
A UEG no câmpus Henrique Santillo, é a primeira vez tem pessoas surdas e aos poucos melhorando a qualidade acessibilidade. Mas a UEG precisava ter valor na área interprete de LIBRAS, às vezes os surdos sentem insegurança. Qualquer momento intérprete pode ter problema de saúde e não pode estar presente na sala de aula, então eles sentem prejudicados, precisamos lutar a ter as reservas dos intérpretes antes receber os novos surdos acadêmicos e os eventos. Os professores precisam adaptar para melhorar método da sala de aula quando tiver aluno surdo, isso significa é a INCLUSÃO.
(Jornal UEG| CeCom| UEG)