A relação entre as pessoas e a cidade, as formas de ocupação do espaço público, a organização das cidades e as complexidades que envolvem a urbanidade, foram os principais pontos de discussão do primeiro dia do 5º Fórum Goiano de Mobilidade Urbana e Trânsito. Com o tema Direito à Cidade, os convidados do evento debateram os modelos de cidades postos na contemporaneidade, no Auditório da Câmara de Vereadores de Goiânia.
Com participantes de diversas áreas, entre as quais Arquitetura e Urbanismo, Geografia e Psicologia, a discussão foi conduzida pela diversidade de olhares teóricos sobre os efeitos que a mobilidade urbana exerce no cotidiano e no espaço público, e como as dimensões humanas, material e simbólica, são afetadas por esse sistema.
Para o professor Haroldo Reimer, reitor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), a temática é de fundamental importância. “A cidade é o espaço de convivência das pessoas. Viver na cidade exige níveis mínimos e razoáveis de civilidade. Nós clamamos por diversas questões, mas qual é o nosso papel nesse cenário?”, perguntou. Com essa indagação, o reitor relacionou a questão com as práticas individuais, as quais, segundo ele, precisam também ser revistas. “A cidade é também dos cidadãos”, lembrou.
As pessoas e a cidade
A professora Raquel Rolnik, da Universidade de São Paulo (USP), fez duras críticas à influência das empreiteiras, que segundo ela é um setor empresarial que se mantém quase exclusivamente de verbas públicas.
“E esse é um setor que está ligado diretamente as cidades!”, segunda a professora essa relação é nociva, porque o desenho da cidade passa a ser pensando de acordo com a lucratividade dessas empresas. “Não se pensa mais nas pessoas, mas sim nas pontes, nos túneis e nas avenidas”, frisou.
“Qual é e para quem é a cidade?” foi pergunta que estava posta para os participantes do evento, e de fundamental importância para entender o dispositivo urbano da mobilidade. Isso porque, os trajetos das cidades podem ser entendidos também como prioritários. “Veja bem: a iluminação, a calçada, a avenida ou as linhas de ônibus, vão determinar também a ocupação”, observou a professora Raquel.
Esses trajetos, que são chamados pendulares, ou que não são unidirecionais, também são influenciados por outros fatores, e o corpo é um deles. Segundo o professor César Simoni, da USP, é preciso (re)ocupar o espaço urbano, mas nem todo corpo cabe no modelo de cidade. “Os equipamentos urbanos são voltados para os corpos perfeitos”, analisou.
Essa perspectiva também foi compartilhada por André Jonas dos Campos, advogado e membro da Associação de Deficientes Físicos do Estado de Goiás (Adfego). Segundo ele, não se pensa na diferença como um fator que faz parte do espaço urbano. “É uma questão que, mesmo no privado, só é discutida quando é preciso pensar adaptação”, disse.
Importância acadêmica
Toda essa complexidade do tema torna o Fórum Goiano de Mobilidade Urbana e Trânsito um importante espaço acadêmico, fato ressaltado pelo professor Haroldo Reimer. “Esse é um espaço de pensamento crítico e o mais importante do estado para essa discussão”, afirmou.
A dimensão do Fórum pode ser medida pelo seu alcance. Nessa quinta edição foram inscritos 108 trabalhos acadêmicos. As pesquisas apresentadas alcançam temas como violência, caminhabilidade, saúde, deslocamentos e questões econômicas, realizadas em diversos pontos do país, como Brasília, Paraná, Amazonas e Rio de Janeiro.
(Fernando Matos | CeCom|UEG)