Estudantes assistem à palestra da professora Giselle Freitas, na manhã do primeiro dia da Agro Centro-Oeste Familiar 2018
Os perigos dos agrotóxicos à saúde e ao meio ambiente foram reafirmados no primeiro dos três dias da Feira Agro Centro-Oeste Familiar, 2012, iniciada na manhã desta quarta-feira, 9, na Universidade Estadual de Goiás (UEG) Câmpus São Luís de Montes Belos. No Centro de Pesquisa Animal e Vegetal (Cepav), a especialista em Saúde Pública Giselle Freitas ministrou a palestra Danos à saúde associados ao uso de agrotóxicos, no Espaço Saúde da Superintendência de Vigilância Sanitária (Suvisa) e parceiros.
Giselle falou sobre o tema que seria abordado pelo médico da Suvisa Fausto Henrique Pofahi, que não pôde comparecer. A uma sala lotada de estudantes, professores e produtores rurais, ela apresentou dados estarrecedores, apesar de subnotificados, como ela mesma destacou. Explica-se: os dados fazem parte de estudos apresentados nos anos de 2010 a 2014. Por falta de pesquisas atuais, são esses os números disponíveis. No, entanto, pelo crescente uso de pesticidas na agricultura brasileira, certamente tais dados não retratam o quadro atual.
“Agrotóxico é sinônimo de veneno”, foi uma das frases destacadas pela especialista, em revolta à tentativa de aprovação, na Câmara dos Deputados, de projeto de lei que flexibiliza as regras para fiscalização e utilização de agrotóxicos no País. O texto, que foi juntado ao projeto de Lei 6.299/2002, de autoria do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, propõe mudanças profundas, entre elas, a troca do nome agrotóxico por produto fitossanitário.
Classificação
Em desabafo, Giselle lembrou que a Lei 7.802, de 11 de julho de 1989, apresenta quatro classificações para agrotóxico, que vão de produto pouco tóxico a produto extremamente tóxico. “Vão mudar para produto fitossanitário pouco tóxico?”, ironizou a especialista, ao ressaltar que, desde 2008, o Brasil é o País que mais consome agrotóxicos no mundo. “Agora, querem ampliar ainda mais”. De 2000 a 2012, o uso de agrotóxico no Brasil subiu 288%, justificou Giselle.
As consequências são refletidas no meio ambiente e na saúde humana. De 2007 a 2014, ainda conforme estudo da Anvisa mostrado pela especialista, 34.147 notificações de intoxicações foram registradas no Brasil. “São números subnotificados”, garantiu, com base em estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) segundo o qual, para cada caso de intoxicação notificado no mundo existem outros 50 casos.
As contaminações podem ocorrer por via oral, respiratória e dérmica (pela pele). Na palestra, Giselle citou pesquisa feita em Lucas do Rio Verde (MT), em que até no ar foi constatada incidência de produtos químicos. O município é coberto por lavouras pulverizadas por aviões agrícolas. De acordo com a especialista, lutar contra essa realidade é um desafio. “É uma indústria que fatura mais de US$ 12 bilhões por ano, pois não pagam impostos”, exemplificou.
Agricultura orgânica
Uma das alternativas saudáveis ao uso de “veneno” não recebe incentivos governamentais, lamentou Giselle, quando recebeu o apoio de representantes das instituições parceiras presentes na palestra (Incra, Secima, Concea e Conesam e a ONG Ecom Amor). É o caso da agricultura orgânica, que não utiliza produtos químicos no cultivo.
O mecânico Bernardo Carlos Pires, que veio de Rio Verde na caravana do IF Goiano, disse que pretende plantar orgânicos em um terreno no município. Seu objetivo é vender os produtos a preços mais em conta, para incentivar e ampliar o consumo entre as classes menos abastadas. Bernardo disse que vai participar dos três dias da feira, e pretende ir embora com mais conhecimentos para realizar seu projeto.
O estudante do primeiro ano do ensino médio Ygor Pereira Gomes é outro adepto da agricultura orgânica presente na palestra. O garoto veio na caravana de Arizona, onde o pai tem sítio em que planta produtos como abacaxi, milho, mandioca e pepino. Sem agrotóxicos, claro. Tudo vai para o consumo da família e de vizinhos.
Ygor quer mudar essa história, plantando orgânicos com fins comerciais. “Quero fazer, primeiro, um bom projeto na escola”, disse. A palestra foi um incentivo a mais. Porém, segue Ygor segue ainda hoje pra casa. Quem também teve de ir embora foi a garotada da Escola Estadual do município de Rosalândia. Infelizmente, saíram antes de a palestra terminar. “Pelo menos, viram os eslaides mais impactantes”, minimizou Giselle Freitas.
O uso de agrotóxicos também foi tema do 7º Seminário Científico sobre Agricultura Familiar, realizado na parte da tarde. O seminário incluiu ainda oficina sobre biofertilizantes líquidos, minicurso de manejo ecológico do solo e palestra sobre recuperação de nascente e entomofagia como alternativa no combate à fome.
PERIGO: AGROTÓXICOS
Alguns dados sobre agrotóxicos na agricultura brasileira apresentados por Giselle Freitas, durante palestra na Feira Agro Centro-Oeste Familiar 2018
- Segundo o IBGE, a agricultura brasileira consumiu 110 milhões de litros de agrotóxico em 2010.
- Pesquisa da Anvisa com 12.051 amostras de 25 tipos de alimentos registra 58% de algum tipo de agrotóxico.
- Pesquisa realizada em 2011 mostra que até o leite de mães agricultoras de Lucas do Rio Verde (MT) estava contaminado por agrotóxicos.
- Entre as doenças crônicas causadas por agrotóxicos estão: depressão, neuropatias periféricas, alergias, hepatopatias perda da fertilidade, fibrose pulmonar, mutagêneses e até câncer.
- Onde buscar ajuda: 0800.646.4350 (Centro de Informação Toxicológica de Goiás - CIT)
(José Carlos Araújo | Cecom|UEG, de São Luís de Montes Belos)