A equipe do projeto “Condefé tem cagaita e gabiroba no Cerrado” realizou, no dia 1º de maio, a 5ª expedição aos assentamentos Presente de Deus e Itajá, localizados na região do Vale do São Patrício, no município de Goianésia. A equipe foi recebida na sede da Associação Verde Vida pelas presidentes das associações locais, Ana Rita Vieira e Leuza Maria Souza, além de diversas famílias de assentados rurais.
A expedição focou em alguns objetivos estratégicos para o avanço do projeto. Entre os principais estavam a primeira devolutiva dos resultados parciais às famílias envolvidas; a continuidade da coleta de informações sobre o conhecimento ecológico local, com vista ao diagnóstico social, ambiental e econômico da cadeia produtiva da cagaita e da gabiroba na região; a entrega de mudas de gabiroba às famílias; e a apresentação do Edital de Credenciamento para Associações e Cooperativas da Sociobiodiversidade do Cerrado Goiano, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad-GO).
Para atingir os objetivos propostos, a equipe promoveu uma roda de conversa com as famílias, criando um espaço de troca de experiências sobre os impactos gerados desde o início do projeto – em especial, sobre as transformações na percepção dos assentados. “Ouvimos que mudou completamente a forma como as espécies nativas são percebidas na região. Segundo eles, anteriormente, ‘não importava muito se a cagaita estava frutificando ou não’, pois era uma ‘fruta que o gado comia e logo acabava’. Não havia a percepção do seu potencial aproveitamento para venda, produção de doces, produção de polpa ou emprego medicinal”, conta a coordenadora do projeto, a professora Dra. Joelma Abadia de Paula. “Sobre a gabiroba, ouvimos que ‘era vista antigamente’, mas que ‘hoje em dia não se vê mais’. Quando contam histórias de parentes ou conhecidos que moravam na região antes deles, dizem que tinha muita gabiroba por ali, mas agora é muito raro encontrar”, relata a professora.
Resultados
A equipe apresentou, de forma acessível, os resultados parciais do primeiro ano de atividades e compartilhou as perspectivas para 2025. A profa. Joelma conduziu uma retrospectiva das expedições realizadas ao longo de 2024. Utilizando uma linguagem simples e imagens captadas durante as visitas de campo, a apresentação buscou valorizar a participação das famílias, permitindo que os assentados se reconhecessem como parte fundamental do projeto.
Na sequência, foram compartilhados os resultados parciais dos estudos relacionados à colheita e à pós-colheita dos frutos do Cerrado. As orientações incluíram técnicas para a coleta adequada e métodos de conservação, de forma a assegurar o máximo aproveitamento dos frutos, tanto para o consumo in natura quanto para a produção de derivados, como polpas e sucos. De acordo com a profa. Joelma, as informações foram recebidas com grande interesse pelas famílias, que acompanharam atentamente as apresentações.
Na ocasião, os pesquisadores Anielly Monteiro de Melo e Fernando Gomes Barbosa, do Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais do Cerrado (Renac|UEG), compartilharam os resultados de suas teses de doutorado, traduzindo os achados acadêmicos para uma linguagem acessível ao público presente. Os dois demonstraram o potencial de aproveitamento dos subprodutos da cagaita e da gabiroba, como cascas e sementes, na produção de extratos com atividades antioxidantes e antimicrobianas, além de seu valor nutricional. A apresentação evidenciou que até mesmo os resíduos resultantes da "despolpação" dos frutos, muitas vezes descartados, podem ser transformados em produtos com valor comercial.
Proposta de livro
Durante o encontro, a professora Dra. Josana de Castro Peixoto e o biólogo e Dr. Charles Lima Ribeiro, ligados ao Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (Teccer|UEG), conduziram um diálogo com as famílias sobre as propostas iniciais para a criação de uma coletânea educativa. A iniciativa contempla a produção de três livretos, concebidos com o objetivo de valorizar os saberes tradicionais e fortalecer o vínculo das comunidades com o Cerrado.
O primeiro livro, pensado com ilustrações e fotos, será voltado à comunidade geral, especialmente às famílias dos assentamentos. Nele, constarão orientações para a identificação das espécies em campo, práticas de manejo, uso potencial e caminhos para a comercialização dos frutos. O segundo livreto, destinado ao público infantojuvenil, apresentará em forma de prosa a história dos assentamentos Presente de Deus e Itajá, abordando aspectos como localização, cultura, sociedade e economia, aliados a informações sobre a botânica e a ecologia do Cerrado, com foco especial nas espécies cagaita e gabiroba. Já o terceiro livreto será dedicado ao registro de saberes tradicionais, unindo ecologia, cultura e resistência por meio das vozes dos assentados, além de abordar a culinária do Cerrado.
O diálogo com as famílias foi importante para revelar, de forma espontânea, os elementos que integrarão o conteúdo da coletânea. Durante a conversa, surgiram inclusive sugestões de nomes para personagens do segundo livreto, inspiradas em figuras marcantes da história e da cultura local.
“Aproveitamos ainda a oportunidade para entregar polpas congeladas de cagaita e gabiroba às famílias. Essas polpas foram obtidas por nossa equipe durante a execução dos projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação com os subprodutos (cascas e sementes) destes frutos. Entregamos, também, um caderno com sugestões de receitas para inspirá-las na elaboração de pratos e quitutes com as polpas”, relatou a coordenadora Joelma de Paula.
A profa. acrescentou ainda que as informações sobre o edital da Semad-GO, voltado a associações e cooperativas da sociobiodiversidade, foram apresentadas detalhadamente às lideranças das associações de moradores. “Ressaltamos a importância de as associações se inscreverem nesse edital, pois caso sejam contempladas, os recursos poderão contribuir para a manutenção e crescimento das atividades de aproveitamento sustentável de frutos do Cerrado na região após o término da vigência do projeto Condefé”, sublinhou.
Ao final, a equipe do projeto entregou mudas de gabiroba (Campomanesia xanthocarpa) às famílias, juntamente com um folder contendo orientações sobre o plantio. As mudas foram doadas pela Estação Experimental Nativas do Cerrado, da Emater-Goiás.
Sobre o projeto
Iniciado em 2024, o projeto “Condefé tem cagaita e gabiroba no Cerrado” nasceu a partir de uma proposta elaborada por pesquisadores da Universidade Estadual de Goiás (UEG), no âmbito de uma chamada pública promovida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), em parceria com a Fundação Grupo Boticário. A iniciativa busca fomentar o extrativismo sustentável no Vale do São Patrício, com o propósito de promover geração de renda para as famílias da região.
(Comunicação Setorial|UEG)