
O Projeto "Trilha do Tatu" recebeu nesta segunda-feira, 17, a visita dos estudantes do Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Padre Trindade, de Anápolis, que percorreram a Reserva Ecológica da UEG, localizada no Câmpus Central de Anápolis, em uma experiência de exploração, aprendizado e contato direto com o Cerrado.
Criado em 2001 e em atividade desde 2002, o projeto é uma das iniciativas mais longevas da Universidade Estadual de Goiás dedicadas à formação científica e à educação ambiental. Atualmente integrado ao Programa de Extensão "Trilhas do Cerrado", a ação já recebeu mais de 20 mil estudantes da educação básica e da pós-graduação – todos guiados por monitores em um percurso de vivência e troca de conhecimento sobre o bioma.
Em seu segundo ano como programa de extensão, o "Trilhas do Cerrado" funciona com coordenação itinerante e reúne diferentes projetos extensionistas. No ano inaugural, a coordenação esteve sob responsabilidade da professora Mirley Luciene dos Santos; já na gestão atual, quem assume a liderança é a professora Juliana Simião. As duas são docentes do curso de Ciências Biológicas e do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da UEG.
O Projeto “Trilha do Tatu – educação científica e ambiental no Cerrado”, por sua vez, segue sob coordenação da profa. Mirley, que resume a essência da iniciativa: “Nosso objetivo é popularizar o conhecimento científico produzido sobre o Cerrado junto aos estudantes da educação básica de Anápolis e região”. Ela explica que “para isso, o projeto recebe as escolas por meio de agendamento e conta com o auxílio de monitores, estudantes licenciandos do curso de Ciências Biológicas da UEG, que realizam todo um trabalho de sensibilização sobre a importância do Cerrado e sua biodiversidade".
Como funciona a trilha
As escolas participam mediante agendamento prévio, realizado por formulário on-line divulgado nas redes sociais do projeto. As visitas ocorrem semanalmente, às segundas-feiras, no período da manhã ou da tarde, atendendo estudantes dos 5 anos ao ensino médio. “Nosso maior público tem sido os anos finais do ensino fundamental e o ensino médio, porque geralmente nessas fases eles trabalham mais a questão dos biomas. Mas recebemos desde os pequenininhos da educação infantil”, explica a profa. Mirley.
Além da educação básica, alunos de pós-graduação também participam das atividades. Muitos desenvolvem pesquisas diretamente relacionadas ao trabalho de educação científica e ambiental realizado na trilha. Grupos do mestrado em Ensino de Ciências, em especial, percorrem o trajeto como parte de sua formação continuada.
A trilha tem 1,5 km de extensão e vai até o Córrego Barreiro, atravessando três fitofisionomias essenciais para entender a diversidade do Cerrado:
- o cerrado típico, com árvores baixas e retorcidas adaptadas ao fogo e à seca;
- a mata seca, que não possui associação com cursos de água e perde folhas no período de estiagem, formando copa densa na época das chuvas;
- a mata de galeria, vegetação mais úmida e fechada que acompanha córregos e nascentes.
O trajeto conta com pontos de observação e um mirante, onde os estudantes vivenciam o Cerrado de forma integrada e interpretativa. Durante a experiência, os visitantes participam de oficinas, palestras, exposições e mediações sobre a temática ambiental, em um processo que combina visita guiada, conhecimento científico e sensibilização. Muitas dessas atividades são realizadas no Laboratório de Ecologia e Educação Científica, localizado na entrada da Reserva Ecológica. “Os monitores acompanham os estudantes e vão despertando o olhar para as relações ecológicas, para o que está acontecendo ao redor", observa a profa. Mirley.
O contato direto com o ambiente é enriquecido pelo uso de materiais didáticos variados – de sementes e frutos do Cerrado a modelos lúdicos, como animais de pelúcia, insetos conservados, aracnídeos, répteis e outros recursos destinados às crianças menores, disponíveis no laboratório.
Participação escolar
A aluna Djullyane Tamile de Souza Ferreira, do 8º ano do Cepi Padre Trindade, participou pela primeira vez da atividade e contou que a experiência despertou ainda mais sua curiosidade sobre o Cerrado. Durante a visita, ela pôde conhecer de perto as diferentes formações vegetais, observar características de plantas que não conhecia e compreender melhor a riqueza natural que existe ao seu redor.
Djullyane, que afirma amar fotografar flores, céu e paisagens, aproveitou a trilha para registrar a beleza das espécies encontradas no caminho e se encantou com a possibilidade de observar animais da região. Para ela, a experiência acrescenta conhecimento e torna os estudos mais significativos.
O professor Cléver Marcelo Teixeira de Lima, que leciona uma disciplina eletiva para turmas do 6º ao 8º ano no Cepi, destacou a importância da visita à "Trilha do Tatu" para a formação dos estudantes. Segundo ele, sair da sala de aula permite que os alunos compreendam o Cerrado de forma concreta, reconhecendo frutos, espécies e características que muitas vezes passam despercebidos no cotidiano. Mestrando e pesquisador da área, o professor reforçou que a vivência amplia a bagagem teórica e transforma a percepção. “Quando o aluno vivencia o Cerrado, ele entende que aquilo não é só mato”, frisou.
No Laboratório de Ecologia e Educação Científica, as professoras Mirley Luciene e Juliana Simião mostram os materais lúdicos utilizados durante as visitas e oficinas, como a caixa entomológica, usada para coleta, conservação e estudo de insetos
Formação de monitores: aprender ensinando
Atuando também como espaço de formação para alunos da UEG, todos os anos cerca de 20 monitores participam do trabalho - a maioria estudantes do curso de Ciências Biológicas, embora seja aberto a todos os cursos de graduação da universidade.
Segundo a professora Juliana Simião, no curso de Ciências Biológicas o trabalho é mais direcionado. ”Desde o primeiro período, os alunos começam a participar do curso de formação continuada, já atuando como monitores. Isso gera, inclusive, mais interesse pela profissão. Muitos chegam tímidos, e a vivência na trilha desenvolve habilidades de comunicação e docência, fundamentais para sua formação como licenciados. Sem falar [do reforço] nos conteúdos sobre biologia do Cerrado, que eles aprendem desde o início do curso de Ciências Biológicas”, sublinha.
Com uma média de mil visitantes por ano, a profa. Juliana destaca que parte do sucesso da "Trilha do Tatu" está no vínculo construído com a comunidade escolar ao longo de duas décadas. “Muitos professores já conhecem o projeto porque participaram como estudantes. Eles voltam, agora como docentes, e trazem suas turmas", conta.
A estudante Vânia Pereira de Godói, do 2º período de Ciências Biológicas, atua como monitora do projeto desde que entrou na UEG. Ela conta que a professora Mirley apresentou e incentivou a participação, despertando seu interesse em levar o Cerrado às crianças. Para Vânia, a experiência enriquece sua formação, especialmente por ser licenciatura, pois permite desenvolver vínculo com os alunos, aprender a conduzir atividades educativas e vivenciar, na prática, a relação entre ensino e biodiversidade.
Lucas Mateus Rodrigues Pereira, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Cerrado (Renac|UEG), participa da "Trilha do Tatu" desde 2015. Ele destaca que a experiência permite aplicar os conhecimentos ecológicos adquiridos na graduação e aproximar temas como conservação e crise climática dos estudantes que visitam a trilha. Para ele, participar do projeto é um diferencial acadêmico e pessoal, por possibilitar o contato direto com a biodiversidade local. Ele lembra que já observou na área animais como lobo-guará e tamanduá, reforçando a riqueza da fauna na região.
Parceria
Esse reconhecimento acumulado também amplia o alcance do projeto, que agora inicia uma parceria fora do estado. A aproximação com o Projeto Parque Educador, desenvolvido no Distrito Federal, começou durante o II Festival do Cerrado, realizado na UnU Pirenópolis pelo Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (Teccer|UEG). Na ocasião, a equipe da “Trilha do Tatu” levou um estande, apresentou resultados do projeto e participou de uma mesa-redonda sobre educação científica e ambiental. A atividade chamou a atenção de uma das coordenadoras do Parque Educador presente no evento, que procurou a equipe da UEG para conhecer melhor o trabalho.
A partir desse primeiro encontro, representantes do Distrito Federal – quatro professoras que atuam no Parque Educador – visitaram a Reserva Ecológica da UEG, percorreram a "Trilha do Tatu", conversaram com os monitores e conheceram de perto os materiais didáticos produzidos pelo projeto. A profa. Mirley explica que a aproximação evoluiu para uma sinalização concreta de parceria, que deve envolver troca de oficinas, produção conjunta de materiais didáticos e outras ações colaborativas entre as equipes.
Para fortalecer esse diálogo, as docentes responsáveis pelo projeto, acompanhadas por um grupo de monitores, visitaram o Distrito Federal no dia 3 de novembro, onde conheceram áreas atendidas pelo Programa Parque Educador – a iniciativa é da Secretaria de Educação do DF, em parceria com o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), e está presente em regiões administrativas como Taguatinga, Samambaia e Ceilândia. “É uma parceria que está sendo sinalizada e que, acreditamos, vai ser bastante promissora, principalmente pela troca de experiências, porque são trabalhos que têm o mesmo objetivo em comum”, destaca a profa. Mirley.







Alunos do Cepi Padre Trindade percorrem a Trilha do Tatu, na Reserva Ecológica da UEG, em Anápolis
(Comunicação Setorial|UEG)