Barbatimão (Stryphnodendron adstringens). Foto: Eurico Zimbres
Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Cerrado da Universidade Estadual de Goiás (Renac|UEG) lança um alerta sobre o futuro das plantas medicinais nativas do Cerrado, bioma reconhecido como um dos mais ricos em biodiversidade do planeta e fundamental para o equilíbrio ecológico e cultural da região central do Brasil. O estudo aponta que, até 2060, as mudanças climáticas poderão reduzir em até 64% as áreas adequadas à ocorrência dessas espécies, forçando sua migração em direção à Amazônia em decorrência do processo de “savanização”.
Publicado em parceria com o Instituto Federal de Goiás (IFG), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal de Goiás (UFG), o trabalho foi divulgado no último dia em 28 de outubro na conceituada revista científica Biodiversity and Conservation (Springer Nature).
Intitulado “The potential effects of climate change on medicinal plants from the Brazilian Cerrado in South America”, o artigo é resultado da dissertação de mestrado de Leonardo Almeida Guerra dos Santos, egresso da UEG, concluída no Renac, sob orientação do professor Dr. Daniel de Paiva Silva (IFG – Câmpus Anápolis). Também assinam o estudo os pesquisadores Dr. Bruno Vilela (UFBA), Dra. Fernanda Gonçalves de Sousa (UFG) e Dr. Washington Soares Ferreira Júnior (UFPE).
Os pesquisadores utilizaram modelos de distribuição de espécies e cenários climáticos globais para projetar como o aumento das temperaturas e as mudanças no regime de chuvas poderão alterar a ocorrência de mais de 100 espécies de plantas medicinais do Cerrado, amplamente utilizadas por comunidades tradicionais e na medicina popular.
Os resultados indicam um quadro preocupante: até 64% das áreas atualmente adequadas a essas espécies poderão desaparecer até 2060, especialmente diante dos cenários mais severos de aquecimento global. Espécies representativas do Cerrado, como o barbatimão (Stryphnodendron adstringens), o pequi (Caryocar brasiliense) e o jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa), estão entre as mais ameaçadas.
Cerrado e Amazônia
O estudo também identificou uma tendência de deslocamento das espécies para o norte da América do Sul, indicando que áreas da Amazônia poderão se tornar refúgios climáticos para plantas típicas do Cerrado. Essa migração, contudo, pode gerar desequilíbrios ecológicos e dificultar o acesso das comunidades locais a recursos medicinais que integram seus saberes e práticas culturais.
"Para enfrentar essa crise, é urgente a criação de políticas públicas integradas que priorizem o estabelecimento de novas unidades de conservação (UCs) em refúgios climáticos e a manutenção efetiva das UCs já existentes, criando corredores ecológicos entre os biomas. É fundamental também implementar programas de migração assistida para espécies críticas e fortalecer o combate ao desmatamento, tudo isso em parceria com as populações tradicionais para conservar tanto as espécies quanto o conhecimento a elas associado", destaca o pesquisador Leonardo Almeida.
Publicação internacional
Publicada em uma das revistas científicas mais respeitadas da área de ecologia e conservação, a pesquisa reforça a relevância da ciência produzida pelas instituições públicas brasileiras, em especial na UEG. O coordenador do Renac|UEG, prof. Everton Tizo, ressalta que "o estudo representa uma importante contribuição para a ciência, além reafirmar o compromisso da UEG e do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Cerrado com a produção científica de excelência voltada à conservação da biodiversidade do Cerrado”. Segundo ele, a “pesquisa não apenas reforça a importância da ciência aplicada à realidade socioambiental do Brasil, como também evidencia o papel estratégico do PPG Renac na formação de pesquisadores capazes de dialogar com os principais desafios globais, como as mudanças climáticas e seus impactos na biodiversidade”.
O artigo completo pode ser acessado aqui.
(Comunicação Setorial|UEG)