Dando sequência à participação da Universidade Estadual de Goiás (UEG) na Campus Party 2020, foi realizada neste sábado, 11 de julho, a mesa redonda "Adaptações à pandemia: o que vem depois?". A pró-reitora de Graduação da UEG, professora Suely Cavalcante, dividiu a discussão com o chefe de gabinete da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), Diogo Mochcovitch, e com o superintendente de Capacitação e Formação Tecnológica da Secretaria de Estado de Desenvolvimento e Inovação de Goiás (Sedi), José Teodoro Coelho.
O superintendente da Sedi, que foi o responsável pela mediação do evento, iniciou sua fala discorrendo sobre como a pandemia da covid-19 expôs as fragilidades da educação mundo afora. De acordo com ele, alguns sistemas de educação conseguiram se adaptar mais rapidamente, outros não.
"O regime especial de aulas não presenciais, adotado aqui em Goiás, deixou evidente as lacunas entre alunos de diferentes classes sociais e dos profissionais da educação em relação a disponibilidade e familiaridade no uso de ferramentas de virtualização do ensino", destacou. De acordo com ele, a digitalização acelerada propiciou um aprendizado intenso para professores e instituições de ensino, que passaram a fazer uso cada vez mais intensos de plataformas digitais.
Com relação à discussão sobre a tecnologia promover, ou não, mais equidade e qualidade na educação pública, Diogo Mochcovitch, explica que do ponto de vista das ferramentas tecnológicas no espaço escolar as realidades são bastante distintas. "São muitos desafios para se pensar sobre isso, inclusive nesse momento de pandemia. Já do ponto de vista do acesso à informação acredito que sim, que há algo de democrático e de equidade aí. Existe, sim, o desafio, mas também existe um acesso à informação muito surpreendente", explicou.
Ele afirma que temos que começar a pensar em como vamos tratar essa informação e trabalhar na própria educação um tipo de curadoria informacional dentro da chamada infosfera. "Muitas vezes pensamos em tratamento de fake news, mas não é só isso. É pensar o letramento digital, saber utilizar as ferramentas e usar essas informações que estão disponíveis de uma forma interessante para que, na verdade, consigamos progredir e não termos simplesmente um amontoado de informações. Não é porque essas informações existem que elas são de qualidade. É preciso fazer essa curadoria e é aí que a educação entra", frisou.
Práticas pedagógicas inovadoras – Em sua fala, a pró-reitora de Graduação da UEG, Suely Cavalcante, destacou que a pandemia pegou a todos de surpresa e fomos forçados a um distanciamento social que nos obrigou a decidir entre parar tudo ou usar a tecnologia para ministrar as aulas. "Essa necessidade acabou acelerando a implementação de recursos tecnológicos que já eram estudados e defendidos por pesquisadores, mas ainda com resistências", explicou.
De acordo com Suely Cavalcante, a maioria dos professores começou a utilizar as tecnologias ao mesmo tempo em que aprendia como usá-las em sala de aula. Ela ressalta que os docentes tiveram que superar muitos desafios no processo de ensino-aprendizagem, entre eles o entendimento das diferentes possibilidades metodológicas e pedagógicas proporcionadas pelas tecnologias digitais. "Eu conheço, mas preciso saber quais são as possibilidades da tecnologia. Também preciso ter a compreensão da importância do desenvolvimento de competências e habilidades e ações dos discentes neste momento", frisa.
A pró-reitora destaca que um dos grandes desafios são as estruturas dos currículos que, na maioria das escolas e das universidades brasileiras, ainda apresentam posições mais tradicionais, que colocam o professor como o centro do processo e esquecem da importância do aluno como agente que também constrói o conhecimento.
Segundo Suely Cavalcante, já há muito tempo os tablets e smartphones estão nas mãos de quase todos os alunos. No entanto, a utilização dos equipamentos era apenas como ferramenta de apoio. "As pessoas não levavam em conta que as tecnologias digitais podem ser utilizadas para aprender em qualquer lugar, em qualquer tempo", ressaltou a professora ao afirmar que, a partir de suas experiências, percebeu que o que faz a diferença não são os aplicativos, mas esses aplicativos estarem nas mãos de professores e alunos com mente aberta, criativa.
"Neste momento estamos todos testando novas ferramentas e isso vai transformar como encaramos a sala de aula. Analisando os comportamentos dos alunos e dos professores já é possível afirmar que nada vai ser como antes. Os alunos já estão sinalizando para isso. Os próprios alunos vão nos pressionar para mudança. Se eu vou ter um aluno diferente, eu também preciso ser uma professora alinhada com esse novo tempo", diz.
Ela explica que é fundamental que todos se preparem para implantar essas práticas inovadoras, mas também é essencial que entendam que nenhuma ação isolada vai dar conta de resolver as demandas que virão. "Não basta apenas usar as tecnologias, temos que criar algo com elas e a partir delas. Sem planejamento, os usos das tecnologias poderão reforçar mais do mesmo e, às vezes, em piores condições ainda".
Participantes
Suely Miranda Cavalcante Bastos
Possui graduação em Licenciatura Plena em Ciências Habilitação Matemática pela Associação Educativa Evangélica (1988); graduação em Ciências Econômicas pela Faculdade de Ciências Econômicas de Anápolis (1980); especialização em Matemática Superior (1990) e Metodologia do Ensino Superior (1990; e mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Goiás (2009). Atualmente é professora titular da Universidade Estadual de Goiás, ocupante do cargo de pró-reitora de Graduação. Tem experiência na área de Matemática, atuando principalmente na formação de professores.
Diogo Mochcovitch
Filósofo especializado em tecnologia em interface com ciência cognitiva. Interessado nos desdobramentos da tecnologia na educação; da ética na inteligência artificial; da neuroética e do aprimoramento humano. Doutor em Filosofia pelo PPGF/UFRJ, com período sanduíche na Universidad de Buenos Aires e pós-doutorado em Bioética, Ética aplicada e Saúde Coletiva pelo PPGBIOS-UFRJ. Atualmente, articulador da pesquisa e da inovação no estado de Goiás, ocupando a Chefia de Gabinete da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).
José Teodoro Coelho
Superintendente de Capacitação e Formação Tecnológica, membro do Conselho Estadual de Educação de Goiás e presidente Câmara de Educação Profissional. Graduado em Ciências: Habilitação Plena em Matemática; especialista em Administração Educacional pela Universidade Salgado de Oliveira. Professor estatutário da Secretaria de Estado da Educação; consultor "ad hoc" do Instituto Euvaldo Lodi em Gestão da Qualidade Normalização NBR/ISO e do Ministério de Educação em validação polos do Programa e-Tec Brasil; coordenador Adjunto e Pedagógico Pronatec/SED-GO. Membro da Comissão de Avaliação dos Resultados das Organizações Sociais – Oss. Palestrante em temáticas: Gestão da Qualidade, Normalização, Educação Profissional e Tecnológica, Gestão de Pessoas e Formação de Professores.
(Núbia Rodrigues|Comunicação Setorial|UEG)