10 de dezembro. Nesta data comemoraremos os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Etimologicamente, comemorar tem origem na palavra latina commemorare, que significa trazer à memória. Significa também recordar com o outro. O ato de comemorar é um acontecimento coletivo. Por isso, ousamos dizer que a festa a se fazer é para a humanidade. Direitos Humanos para todas e todos.
Trazer à memória é lembrar. Nestes tempos em que a humanidade tem sido condenada a permanecer atada ao tempo presente, em que os Direitos Humanos têm sido tão violados, a lembrança de uma data, como o 10 de dezembro de 1948, dia em que foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, é sinal de que ainda temos boa memória.
Acreditamos que tem sentido lembrar-se desse louvável dia de 1948 se a comemoração nos fizer lembrar de todas as pessoas que lutaram, derramaram seu sangue em defesa dos Direitos Humanos econômicos, sociais, culturais, ambientais e sexuais (DHESCAS), e fizeram a uma parcela da humanidade compreender que importância de se ter uma Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por que uma parcela? Porque temos consciência de que a agenda dos Direitos Humanos tem seus inimigos, que se orgulham em dizer que são contra os Direitos Humanos.
10 de dezembro deve ser um dia para fazer memória de todas as vítimas de toda e qualquer guerra. E um dia para pensar e cultivar o Direito à memória, de lutar contra o esquecimento e poder dizer Nunca mais! E pensando o e no Direito Humano à memória, em especial, dos homens e mulheres que não puderem e continuam impedidos de aparecer na história pronunciando a sua própria palavra, é que podemos afirmar que não há uma única memória, como quer fazer crer a “memória oficial”, mas que existem memórias sufocadas pela política do esquecimento. E são essas memórias que têm o direito de emergir com poder na história.
Comemorar não é render homenagem em uma cerimônia pomposa, mas é pensar e agir para investigar e dar visibilidade às históricas violações de Direitos Humanos e às estruturas que as possibilitaram. Mas, mais do que isso, é instaurar um processo de educação em Direitos Humanos, é acolher quem está numa situação de vulnerabilidade, independentemente de sua nacionalidade. É fazer parte de coletivos que estão comprometidos com a promoção e defesa dos Direitos Humanos
A Universidade Estadual de Goiás (UEG) poderá comemorar não só a Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas tudo que ela tem feito para promover e defender os Direitos Humanos. Como prova disso foi a participação efetiva da UEG na Comissão Goiana da Verdade, a fim de ver garantido o direito à memória e a verdade histórica; bem como a participação no Pacto Universitário pelos Direitos Humanos do Ministério da Educação (Mec). E mais, a instituição criou o vestibular para os refugiados e portadores de visto humanitário, a criação da Coordenação Direitos Humanos e Diversidade na Pró-Reitoria de Graduação (PrG) e dos Núcleos de Direitos Humanos, Diversidade e inclusão em todos os seus Câmpus, a instituição tem uma política curricular que contempla a disciplina Diversidade, Cidadania e Direitos, a fim de instaurar um processo de educação em Direitos Humanos.
Para que a toda lembrança seja fecunda e transformadora precisamos colocar em questão as relações de poder na história de ontem e hoje. Sem isso, corremos o risco de transformar os Direitos Humanos em perfumaria, e a comemoração dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos em “uma festa pobre que os homens armaram pra me convencer” (Cazuza”).
Fazer memória do passado, que para nós ainda não passou, é ter coragem no tempo presente e renovar a esperança no futuro que somos chamados a construir desde o cotidiano de nossa universidade, como parte da Humanidade.
Flávio Alves Barbosa
Coordenador Pedagógico do Câmpus de Ciências Exatas e Tecnológicas e membro do Núcleo de Direitos Humanos da UEG