Você sabia que a Universidade Estadual de Goiás (UEG) tem uma incubadora de empreendimentos solidários e que esse projeto ajuda a fortalecer a agricultura familiar em Goiás?
A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos Solidários (Prosol) é um programa de extensão da UEG, sem fins lucrativos, que busca promover o apoio e a incubação de empreendimentos solidários de grupos populares, associados e cooperados, segundo os princípios da Economia Solidária.
Mas você sabe o que é a essa tal Economia Solidária?
A Economia Popular Solidária, como também é conhecida, é um modo de produção inovador dentro do próprio capitalismo, mas se contrapõe às ideias de produção, comercialização e distribuição de riquezas desse sistema, bem como à precariedade nas relações de trabalho, às desigualdades sociais e aos desequilíbrios ambientais decorrentes dele. A Economia Solidária é uma alternativa.
Os empreendimentos econômicos solidários são, então, formas concretas de manifestação da economia solidária. São associações, cooperativas, clubes de troca, redes e complexos cooperativos, iniciativas regidas de fato pelos princípios da economia solidária.
Nesse sentido, a Prosol, vinculada à Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (PrE), atua como consultoria e capacitação desses grupos e seus empreendimentos, dando apoio teórico e também técnico para execução de suas atividades, com vistas à geração de trabalho, renda e à inclusão social.
Os empreendimentos incubados pela Prosol são, em geral, iniciativas de agricultura familiar e de catadores de materiais recicláveis. Atualmente, quatro câmpus da UEG desenvolvem empreendimentos incubados: Itumbiara, Jataí, Ipameri e Itapuranga.
Em Itumbiara, a incubadora tecnológica da UEG desenvolve um projeto na área de pescados, com a Cooperativa de Pesca, Aquicultura e Agricultura Familiar (Coopesgo). A cooperativa estava inativa devido a entraves com processos burocráticos. Mas os pescadores viram na Prosol a oportunidade para o restabelecimento da produção. Também em Itumbiara há um trabalho com os catadores da Associação Amigos do Meio Ambiente Estação Reciclar.
Em Jataí, a Prosol acompanha uma iniciativa de produção de panificados, organizado por mulheres de um assentamento rural. Juntas, as agricultoras familiares produzem biscoitos, pães e bolos, para atender ao mercado de merenda escolar. Também são as mulheres que comandam outro empreendimento solidário incubado no Câmpus Jataí. Um grupo familiar formado por filha, mãe e tias produz temperos à base de pimenta, no Assentamento Guadalupe.
No Câmpus Ipameri, a ProSol tem atendido a Associação dos Produtores Assentamento Olga Benário (Asproab) e a Cooperativa Mista de Agricultores Familiares e Agricultoras de Ipameri (Coopmafi). Esses grupos já estão mais consolidados e a produção é bem diversificada. Há confecção de artesanato, tapetes e produção de frutas, hortaliças e laticínios. Também são produzidos derivados de baru, como pães, bolos e farinha.
Em Itapuranga, a incubadora assessora dois empreendimentos de agricultura familiar: o Grupo Mulheres Rurais do Xixá, que trabalha com a produção de doces e quitandas, e o Pré-Assentamento Paulo Gomes, que está começando a se organizar.
De acordo com o coordenador da Prosol, o professor Talles Santos Faria Silva, é na agricultura familiar em que a economia solidária no Brasil encontra a sua maior aplicabilidade, pois seus princípios estão muito presentes na agricultura de uma forma geral.
Mas, para o professor, há um equívoco ainda muito presente na mentalidade brasileira. “A agricultura familiar é carro-chefe no Brasil, mas as pessoas não a veem como forte, ela sempre foi tida como peça complementar e não como fundamental para a economia local. A maioria das pessoas encaram o agronegócio como a atividade que move o País. De fato, ele tem sua importância para a economia, porém quem põe alimento na mesa da maioria dos brasileiros é a agricultura familiar”, critica.
Sem investimento e com a falta de informações e de conhecimento técnico e social, muitos agricultores familiares acabam limitados. Talles Santos explica que alguns não compreendem que são agricultores familiares, às vezes não são legalmente reconhecidos ou não possuem a documentação e outros ainda não acessam financiamentos por desconhecimento ou porque desistem no meio do caminho, em função da burocracia dos processos.
Aqui nasce o elo entre a agricultura familiar e a incubadora tecnológica da UEG. A Prosol pode contribuir com o avanço dessas iniciativas, pois, via capacitação e apoio, fortalece os grupos e dá a eles as condições de mercado. Além disso, como uma espécie de representante institucional dos empreendimentos solidários, a incubadora é capaz de mostrar ao poder público a importância desse segmento para o dinamismo da economia e o desenvolvimento local. “Muitos municípios dão subsídios para o agronegócio, mas não oferecem o mesmo suporte para o desenvolvimento da agricultura familiar”, observa Talles.
Segundo o professor, alguns municípios não dispõem do selo de inspeção municipal, e o selo estadual é muito caro. Então, o pequeno produtor não consegue comercializar seu produto para além da feirinha local. Não que isso seja ruim, mas oportunidades de crescer são perdidas. “Com um selo de inspeção municipal, por exemplo, ele poderia comercializar nos supermercados da sua região, gerar tributos para o município, gerar mais renda, mais empregos. No entanto, o poder público não tem essa noção”, afirma o coordenador da Prosol.
Cada vez mais, os agricultores familiares têm percebido a relevância da participação da UEG em suas atividades. Para Talles Santos, eles têm a Universidade como “válvula de escape” e já entendem o papel dela na sociedade. “Antes, eles a viam com um elefante branco, lá no meio da região, e não fazia nenhum sentido. Agora já veem que a Universidade tem potencial para ajudá-los”. Na avaliação do coordenador, um dos primeiros resultados da atuação da Prosol é a aproximação da UEG com as comunidades rurais.
“Pra quem está começando é muito difícil vender as mercadorias, e como estamos em fase de pré-assentamento, existem alguns impedimentos para entrar numa cooperativa. Então a Prosol vai abrir muitas portas e nos impulsionar para o mercado”, comenta, esperançosa, Joana Dark do Pré-Assentamento Paulo Gomes, no município de Itapuranga. Ela e a sócia Nelcina Pereira de Souza Marques fabricam doces e iniciaram o processo de incubação no início deste ano.
Algumas iniciativas já começaram a usufruir os benefícios de se fazer do projeto da Prosol, como é o caso da Cooperativa de Produção Agroindustrial Familiar do Sudoeste Goiano (Coopfas), do município de Jataí. “Eles já me dão assistência na parte administrativa, como em relação aos filiados e na organização de vendas dos produtos orgânicos no nosso site”, aponta Janice Assis Nogueira, presidente da Cooperativa.
(Adriana Rodrigues | CeCom|UEG)