A busca por alternativas mais baratas e sustentáveis para utilização em moradias tem se tornado um tópico cada vez mais recorrente nas discussões acadêmicas e tem levado pesquisadores a desenvolverem projetos focados em suas aplicabilidades. Com o objetivo de debater esses materiais, o curso de Arquitetura e Urbanismo do Câmpus Henrique Santillo da Universidade Estadual de Goiás (UEG) realizou, nesta segunda, 9, a palestra Materiais de baixo impacto ambiental: o uso de bambus na Arquitetura.
Idealizado pela professora Anelizabete Alves Teixeira, em parceria com o Centro Acadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo (Cacau), o evento contou com palestra e oficina de criação e montagem de geodésica de bambu – uma estrutura em formato de cúpula, bastante resistente e leve, utilizada para os mais diversos fins. O Grupo Transa Cultural fez intervenções artísticas durante a programação.
Segundo Luanna Lourenço Morais, estudante do 7º período de Arquitetura e Urbanismo e representante do Cacau, a utilização de materiais alternativos tem crescido na construção civil e arquitetura, das mais diversas formas. “No curso, essa é uma discussão que existe e, cada vez mais, materiais como o bambu têm sido integrados a projetos das mais diversas maneiras. Iniciativas como essa fortalecem a discussão”, afirma.
Pensar sustentável
Letícia Rodrigues Rocha, do 8º período do curso de Arquitetura e Urbanismo, fala que, em Goiás, algumas iniciativas sustentáveis já são encontradas. “Temos exemplos em Hidrolândia, Goiânia e Pirenópolis, entre outros. São projetos que incorporam técnicas já utilizadas há muito tempo e que estão sendo retomadas por quem busca um estilo de vida mais responsável”, analisa.
Envolvida com pesquisa sobre bambus, desde a graduação, a professora Anelizabete é uma das referências sobre o assunto em Goiás. Ela explica que a vontade de trabalhar com o material se deu pelo interesse em aliar conceitos de sustentabilidade à construção.
“Meu interesse foi despertado muito cedo. Na verdade, esse tipo de material já é bastante utilizado no mundo. Países vizinhos, como Colômbia, Costa Rica e Equador, por exemplo, possuem construções de bambu belíssimas. No Brasil, infelizmente, a gente ainda nota algumas resistências, sendo visto principalmente em projetos conceituais ou nas zonas rurais. Talvez isso se deva ao desconhecimento das propriedades da planta”, pondera.
Ela assegura que, em comparação com matérias-primas como madeiras e concreto, os resultados laboratoriais surpreendem. “O uso do bambu é milenar e não deixa a dever em nada em relação aos materiais comuns. No país, nós temos muitas pesquisas sendo desenvolvidas, infelizmente, ainda com pouca aplicação”, observa. “É uma pena. É preciso estreitar o diálogo entre a academia e o setor produtivo. Apesar de todas as condições de plantio e da grande variedade de espécies, não há um esquema de plantio sistematizado da planta”, afirma.
Para ela, desenvolver um projeto de manejo das espécies encontradas no país seria uma importante ferramenta para a ampliação das construções de bambu no país. “É um material resistente, que poderia ser utilizado em programas de moradias populares, por exemplo, além de ser utilizado em construções modernas, agregando e modificando valores", explica.
Minimizar impactos
A Ecovila Mãe Terra, em Hidrolândia, é um espaço planejado para gerar impacto mínimo ao ambiente. “É uma comunidade nova, onde desenvolvemos a permacultura como estilo de vida: alimentação orgânica, bioconstrução e outras técnicas sustentáveis fazem parte da comunidade”, afirma Christofer Maseti, engenheiro civil que conduziu a montagem da geodésica.
Christofer observa que a bioconstrução é uma importante aliada em direção a um mundo mais equilibrado. “Ela traz vários benefícios. É acessível, a própria pessoa interessada pode construir e tem menos impacto ambiental”, diz.
A professora Anelizabete comunga com essa visão. “É importante buscar outras técnicas, outros materiais e alternativas mais ecologicamente viáveis. E o bambu é uma alternativa possível e interessante. Falta investimento, mas as possibilidades são enormes”, afirma a professora.
(Fernando Matos | CeCom|UEG)