A cidade de Pirenópolis sediou na última semana a terceira edição do PirenópolisDoc – Festival de Documentário Brasileiro e a Universidade Estadual de Goiás foi uma das instituições parceiras do evento. Este ano a UEG deu suporte ao Festival com a cooperação de alunos do curso de Cinema e Audiovisual no Júri Jovem, de professores como mediadores de debates e com a participação de alunos em minicursos e monitorias.
Mas a grande novidade da edição foi a promoção de uma conferência internacional sobre cinema, fotografia, artes digitais e educação, que ocorreu paralela à programação tradicional de mostras, exposições e cursos.
Encontros
O Encontro Internacional de Fotografia, Cinema e Artes Digitais constituiu, nos dias 15 e 16 de agosto no Centro Municipal de Artes Ita e Alaor, um espaço de compartilhamento de estudos e projetos sobre como as tecnologias digitais tem provocado mudanças na fotografia, no cinema, nas artes, na educação e na pesquisa no cenário contemporâneo.
Composto por diversas mesas de debates, o evento se configurou em verdadeiros encontros entre pesquisadores, estudantes e realizadores audiovisuais de diversos estados do Brasil e também de Portugal, México e Uruguai. Confira o vídeo do Encontro AQUI.
Para Fabiana Assis, diretora do PirenópolisDoc, o Encontro possibilitou a criação de espaço para o diálogo entre dois grupos que geralmente fazem eventos separados, “Quando o pessoal da UEG e da UFG veio procurar a gente do Festival para propor essa atividade, eu achei muito interessante, porque é uma forma de unir quem está pensando, refletindo sobre as questões da imagem tanto na fotografia, no cinema quanto nas artes digitais e quem está produzindo estas imagens, que são os realizadores e diretores que estão aqui para o Festival”.
A ideia para o Encontro Internacional em Pirenópolis surgiu decorrente de iniciativas similares que já são desenvolvidas em Portugal. Por meio da interação entre pesquisadores ligado ao Programa Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da UFG, como a professora Alice Fátima Martins, coordenadora do Encontro e o professor José Ribeiro, coordenador do Grupo de Pesquisa Mídia e Mediações Culturais da Universidade Aberta de Portugal, foi decidido que era importante organizar no Brasil um grupo de reflexão que trabalhasse juntamente com os festivais de cinema.
A professora Alice Fátima lembra que a realização do Encontro, toda a troca de experiências e os projetos futuros que estão sendo pensados a partir do evento, não seriam possíveis se não fosse a articulação entre as três maiores universidades do Estado de Goiás. “Em primeiro lugar, entre a UFG e a UEG, a UFG pelo Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual e em Antropologia Social, a Escola de Música e Artes Cênicas (Emac) e a Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) e a UEG pelo curso de Cinema e Audiovisual no Câmpus Laranjeiras e também a parceria com a professora Adriane Camilo da PUC Goiás”, destaca.
Impressões
Depois de dois dias de apresentações, conversas e trânsitos de conhecimento, a avaliação dos participantes do Encontro foi muito positiva. O professor José Ribeiro, que também é professor visitante nos programas de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual e Antropologia Social da UFG, se impressionou com a qualidade das intervenções nos debates, “acho que temos conquistado um público e um lugar que eventualmente vai ser explorado nos próximos anos”, afirmou ao ensejar que a conferência se repita por pelo menos mais uma década.
Fernando Miranda, professor e diretor da Faculdade de Bellas Artes em Montevidéu no Uruguai, também sublinhou o nível do encontro e a condição de Pirenópolis, que é uma cidade pequena, de propiciar proximidade e a oportunidade de conhecer experiências, projetos e pessoas de diferentes regiões e lugares.
Segundo Mariano Baez Landa, professor na área da Antropologia Audiovisual do Centro de Investigações e Estudos Superiores em Antropologia Social (CIESAS) no México, foi um privilégio participar do encontro justamente porque ao abordar a imagem em perspectivas como tecnologia, educação e sociologia, o evento “está acompanhado um novo renascimento da interdisciplinaridade nas Ciências Sociais, nas Humanidades e nas Artes”.
Em sua análise, Adriane Camilo, professora das disciplinas de Arte Educação e Educação, Comunicação e Mídias na Escola de Formação de professores da PUC Goiás, afirmou que participar de um encontro em que há cooperação entre a UFG, a UEG e PUC e ainda parcerias internacionais, é fundamental para a consolidação do olhar universal para educação interposto pelas tecnologias e pelas imagens. “A Escola de Formação tem muito interesse em trabalhar com a Educação na perspetiva da contemporaneidade; hoje não tem como mais fugir das imagens, das tecnologias, das mídias, e a gente precisa trabalhar isso ao nosso favor”, completa.
Rede Internacional de Pesquisa
Outro ponto-chave do Encontro foi a consolidação da Rede Internacional de Pesquisa em Cinema e Fotografia. A rede foi pensada para integrar e estabelecer cooperação entre pesquisadores, educadores e realizadores na área do cinema, do audiovisual, fotografia e artes do Brasil, México, Uruguai e Portugal. E uma de suas primeiras ações foi, precisamente, a organização do Encontro em Pirenópolis.
Nesse sentido, conforme Antonio Costa Valente, professor do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro – Portugal e coordenador do Festival de Cinema de Avanca, o encontro foi “um grande momento para a Rede encontrar, de forma mais concisa, a capacidade ter uma dinâmica própria e para que ela seja efetivamente um espaço de investigação crucial para todos aqueles que a compõem”.
Para o professor Fernando Miranda, a rede vai ser um grande guarda-chuva para desenvolver projetos de criação em cinema, em fotografia, em artes visuais e também projetos de arte e educação e antropologia. “Acho que essa rede tem muito futuro e muito trabalho pela frente”, conclui.
Ao final do Encontro ocorreu a assinatura de um documento que constituiu formalmente a Rede Internacional.
Perspectivas
Um dos grandes frutos desse primeiro Encontro foi perceber o horizonte de possibilidades de realização de projetos em conjunto, ainda que haja distâncias geográficas. “Hoje em dia, nenhum programa, nenhum projeto, nenhuma proposta pode ficar fixo no lugar, tem que voar e tem que voar na internet, tem que voar nas redes sociais. Neste caso, esta rede com certeza vai se transformar numa plataforma de ensino e de pesquisa e também de graduação”, projeta o professor Mariano Baez Landa.
Já o professor José Ribeiro apontou para a criação de um projeto de formação em Antropologia Visual que envolva o México, Uruguai, o Brasil, Portugal e a comunidade autônoma espanhola Galiza, que seja desenvolvido em rede e pela Rede.
Marcelo Costa, um dos organizadores do Encontro, professor do Curso de Cinema e Audiovisual da UEG e também coordenador do Cria Lab – Laboratório de Pesquisas Criativas e Inovação e Audiovisual, analisa que o Encontro insere, em certa medida, a Universidade Estadual de Goiás no cenário internacional de pesquisa, fixando-se como um marco da internacionalização da instituição.
Ainda segundo Marcelo Costa, a expectativa é que se possa realizar diversas ações entre as várias instituições de ensino superior que foram representadas no evento. “O nosso desejo é que daqui se tenha uma rede colaborativa de pesquisadores para troca de experiências, mas sobretudo de reflexão do fazer e do uso da imagem, tanto fotográficas quanto cinematográficas não só no âmbito da academia, mas também no âmbito da realização cinematográfica propriamente dita”, afirma confiante.
Mostra especial de documentários de língua portuguesa
Um desdobramento do Encontro Internacional e um dos pontos de partida da Rede foi a organização de uma mostra de filmes ligada ao PirenópolisDoc. A Mostra de Cinema Noutras Falas traz um conjunto de filmes que, embora criados e realizados por falantes da língua portuguesa, portam diferentes sotaques, sonoridades, visualidades e questões.
Assim, as outras falas reportam, no contexto de Cinema Documentário Brasileiro, filmes realizados em Portugal, Moçambique, Angola e Guiné-Bissau. Os eixos catalisadores dessas produções são a associação AO NORTE e o CINECLUBE de Avanca, Portugal.
A Mostra constitui um primeiro passo para o possível alargamento do PirenópolisDoc para os filmes da língua portuguesa com variações/variantes culturais e que só enriquecem a experiência do encontro.
Confira o vídeo do Encontro Internacional de Fotografia, Cinema e Artes Digitais AQUI.
(Texto:Adriana Rodrigues
Fotos:Marcos Rogério | Paulo Passos
CeCom|UEG)