A série UEG Entrevista traz na edição desta semana a pró-reitora de Graduação da Universidade Estadual de Goiás, professora Maria Olinda Barreto. Há quatro anos à frente da Pró-Reitoria de Graduação (PrG|UEG), a professora e sua equipe somam muitas horas de trabalho em conquistas históricas para a Universidade, como a construção da nova matriz curricular da UEG.
Formada em Pedagogia e História e mestra em Educação, a professora é discente do Dinter em Educação, parceria da UEG com a Universidade Federal de Goiás (UFG). Na perspectiva da construção de currículo, a PrG tem trabalhado para reforçar o papel social da UEG na ampliação da consciência de cidadania daqueles que integram a comunidade acadêmica.
Para Maria Olinda, a Instituição deve pensar uma formação que tenha como princípio o sujeito e sua realidade. Dessa forma, ela explica que currículo é muito além da matriz dos cursos, é a vida e a formação que se constroem na Universidade.
Confira a entrevista na íntegra:
Nessa experiência à frente da Pró-Reitoria de Graduação, quais foram os direcionamentos do ensino oferecido na UEG?
A PrG pensa políticas de ensino para a Universidade, e o grande desafio desse pensar é a construção do ensino que nós queremos. Com qual perspectiva de educação e de formação em nível superior a UEG pretende trabalhar? Isso implica pensar o sujeito que você quer formar, para a sociedade que você quer formar. Não é possível pensar o ensino desvinculando a pessoa humana do profissional que se pretende formar para a sociedade. Então nós temos uma sociedade, e qual é o desafio: a manutenção ou a transformação dessa sociedade? É nessa perspectiva que se deve pensar o ensino da UEG. Somos uma universidade que quer incluir, e essa inclusão não significa somente trazer pessoas para dentro, mas formar pessoas para uma sociedade que seja inclusiva.
Na perspectiva da construção de um novo currículo na UEG, como foi pensado algo que contemplasse as múltiplas realidades e os 136 cursos oferecidos?
A implementação de um novo currículo que está sendo gestada desde 2013. A discussão sobre o currículo na Universidade tem a perspectiva de mudar uma cultura universitária. Não é simplesmente mudar a matriz curricular. É mudar a cultura, o perfil, a perspectiva do ensino. É colocar o aluno como sujeito e como centro desse currículo. Nós ultrapassamos a primeira etapa, que foi a elaboração e revisão dos projetos pedagógicos dos cursos. Agora o desafio se constitui em dar vida a esse currículo. Nós estamos implantando uma política que, a princípio, foi entendida como uma mudança na matriz curricular. Mas ela é muito mais profunda.
Como a UEG tem priorizado essa formação não só profissional, mas também cidadã?
A disciplina de Núcleo Comum Diversidade, Cidadania e Direitos é fundamental. A UEG acertou ao definir essa disciplina como algo que todos os cursos vão trabalhar. No entanto, só sua existência não muda posturas. Precisamos dizer ao que essa disciplina veio, em qual perspectiva ela vai ser trabalhada. Para isso, precisamos ter formação, debate e discussão. Sabemos que a Universidade é ampla, que ela não é uma unidade de pensamento e isso é muito bom. Não queremos construir pensamento único na Universidade. Queremos construir um compromisso com o aluno que estamos formando para uma sociedade que queremos transformar. Uma sociedade mais humana, acolhedora e fraterna. A Universidade não pode ficar no campo abstrato. Ela precisa estar no chão dessa sociedade.
As licenciaturas estão diretamente ligadas à história da UEG. Como a senhora percebe essa crise, que é presente em todo o ensino superior brasileiro, da procura por cursos de licenciatura?
A licenciatura é o carro-chefe da UEG. Você me pergunta dessa crise. Em todas as instituições nós temos problemas de demanda e problemas de evasão. Por quê? Nós temos uma profissão docente que vem sendo desvalorizada. Ela perdeu o seu status social com o passar dos anos. Se uma profissão não é valorizada na sociedade, fatalmente isso vai ter uma repercussão no curso. Essa dificuldade precisa ser entendida no contexto da profissão docente – desvalorização, precárias condições de trabalho, baixos salários. É preciso repensar os cursos de licenciatura a partir desse momento social. É impossível formar professores com a mesma perspectiva de 10 ou 20 anos atrás. A sociedade mudou, os meios de comunicação mudaram, a tecnologia está sendo colocada nas questões sociais. Antes disso, é preciso que a sociedade, os movimentos sociais, os sindicatos e os nossos representantes repensem a situação desse profissional. Essa crise não se resume aos cursos de licenciatura.
E como o ensino superior contorna essa crise na formação de novos professores?
Hoje, quando nossos alunos entram em contato com as escolas há um choque muito grande com a realidade. Nesse sentido eu quero salientar a importância do Pibid – as Bolsas de Iniciação à Docência. Que é um programa do governo federal, sendo ameaçado a todo momento por conta da crise econômica, e que tem sido de fundamental importância dando o suporte para que o aluno de licenciatura vá às escolas vivenciar o cotidiano da profissão. Não se pode formar um professor sem que ele esteja consciente do que é o chão da escola. E é aí que a universidade se torna propositiva diante da realidade da educação básica do Brasil. O tripé formação, valorização e condição de trabalho é importantíssimo nessa discussão. Não podemos atribuir ao professor a situação da Educação.
Na UEG, como as licenciaturas vêm se posicionando diante deste cenário?
É uma discussão complexa, que a UEG vem tomando como prioridade. A Universidade conseguiu, por meio de um edital ao qual concorremos, organizar o Programa Pró-Docência. Realizamos cinco debates regionais e agora vamos realizar no dia 7 de abril um grande seminário para discutir as licenciaturas na UEG. Esses eventos são fruto do trabalho de um grupo de professores que vem discutindo sistematicamente os problemas inerentes às licenciaturas.
Quais serão os principais focos de trabalho da PrG em 2016?
Uma das grandes metas para 2016 é a implementação do novo currículo, em uma perspectiva de mudança de cultura, de ressignificar o ensino. Formar um aluno que, como sujeito de sua formação, tem responsabilidades nesse processo, assim como todos os agentes do ensino. Outra grande meta é rever o regulamento da graduação. Nós tivemos um Grupo de Trabalho de Legislação e Normas que fez um excelente trabalho e que devolveu à PrG uma proposta, e vamos tentar aprová-la ainda neste semestre. A proposta é de adaptar todo o sistema acadêmico ao novo currículo da UEG. Então, a PrG está diante de três grandes ações: implementar o novo currículo; mudar e regulamentar essa nova matriz; e ainda o processo de formação continuada de todos os nossos agentes.
Dentro dessas ações, como o ensino na UEG dá identidade à Instituição?
Currículo é muito maior do que a matriz curricular. Currículo é a vida e a formação que se pretende implementar. As ações da PrG estão direcionadas para o cidadão que queremos formar. Uma pessoa mais aberta às diferenças, que se preocupe com as questões ambientais, que se preocupe com o mundo que estamos construindo. Isso implica em percepções e concepções que entram em conflito. Esses conflitos são bons. É importante ressaltar a nossa diversidade. A UEG é uma instituição enorme, presente neste Estado de Goiás inteiro. Precisamos pulsar vida nesses câmpus para que não sejamos apenas um prédio que oferta ensino A ou B, mas uma instituição que faça diferença nos desenvolvimentos humano, sustentável e socioeconômico deste Estado.
(Fernando Matos | CeCom|UEG)