Alimentos e biodiversidade são afetados pela dimuição das abelhas
Nas últimas décadas, cientistas e produtores de todo o mundo têm percebido uma grande diminuição na população das várias espécies de abelhas. O problema chama cada vez mais atenção, visto que esses insetos são os principais agentes polinizadores das plantas, responsáveis pela produção de diversos alimentos e manutenção da biodiversidade dos ecossistemas.
De olho no problema, surgiram iniciativas de pesquisa, em vários continentes, que buscam apontar as causas e as consequências dessa diminuição das populações de abelhas, além de buscarem possíveis soluções. O Brasil foi uma das nações que investiram na área. Em 2003, o Ministério do Meio Ambiente abriu um edital para seleção de projetos-piloto de manejo de populações de abelha. Foi nessa ocasião que Marcela Yamamoto, professora do curso de Ciências Biológicas do câmpus Quirinópolis da Universidade Estadual de Goiás (UEG), teve contato com o tema.
Depois de concluir seu projeto “Polinização e produção do maracujá-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa) no Triângulo Mineiro e possibilidades de manejo sustentável de Xylocopa spp. (Apidae, Xylocopini)” - desenvolvido na Universidade Federal de Uberlândia, com professores da Instituição -, Marcela continuou junto à iniciativa do Ministério. Ela participou da organização do livro Uso sustentável e restauração da diversidade dos polinizadores autóctones na agricultura e nos ecossistemas relacionados: Planos de Manejo, uma compilação dos resultados dos 13 projetos selecionados pelo primeiro edital. Nesse trabalho, Marcela Yamamoto estudou a relação entre a eficiência da polinização e a produção de maracujá na região de Minas Gerais.
Em sua pesquisa, a professora Marcela percebeu que a polinização natural, realizada pelas abelhas, poderia ser uma opção mais rentável para a produção de maracujá-amarelo no triângulo mineiro. No entanto, seria necessário investir no aumento da população de abelhas do tipo Xylocopa, na diminuição do uso de agrotóxicos e em outras práticas sustentáveis na produção do fruto.
“Sem abelha, sem alimento”
A professora destaca a gravidade do problema envolvendo os polinizadores. “Na verdade é preocupante”, afirma Marcela, explicando que “quando se analisa a produção mundial de alimentos, a maior quantidade dos que são produzidos não depende de polinizadores, como arroz e trigo". Entretanto, a pesquisadora destaca que, a despeito de a maior parte dos alimentos produzidos atualmente não dependerem desses agentes de polinização, os alimentos de maiores valores nutricionais dependem deles. "Quando nos atentamos aos alimentos que dependem de polinizadores, percebemos que são aqueles que oferecem maior qualidade nutricional, que envolvem a fruta e a semente”.
Segundo pesquisa publicada na revista científica Biota Neotropica (FAPESP), as árvores tropicais dependem em 90% de animais polinizadores. Destaca-se, então, o papel fundamental das abelhas na manutenção da diversidade. Além disso, a polinização de flores produz frutos de melhor qualidade, peso e sementes em maior número e, como a produção de frutos está na base da cadeia alimentar, contribui para o equilíbrio dos ecossistemas.
Para além da produção de alimentos do dia a dia, as abelhas são as principais responsáveis pela reprodução de milhares de espécies vegetais. Animais como besouros e mesmo morcegos também realizam a polinização, mas, como explica Marcela Yamamoto, “as abelhas são os principais polinizadores, porque elas obrigatoriamente visitam as flores atrás de alimento, néctar e pólen”.
A preocupação com a preservação da biodiversidade e a produção de alimentos deu origem não apenas a iniciativas governamentais e científicas, mas também uniu segmentos, como é o caso da campanha Sem abelha, sem alimento, criada em 2013 em uma parceria entre o Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura do Rio Grande do Norte e uma empresa privada, a agência 6P Marketing & Propaganda. A campanha tem como objetivo conscientizar a sociedade para a importância destes polinizadores, e alertá-la para os riscos do declínio dessas populações.
Resultados e propostas
Segundo a professora Marcela, as iniciativas internacionais são independentes, mas dialogam entre si. O principal objetivo no momento é a padronização dos estudos, para que os resultados obtidos em países diferentes possam ser devidamente comparados. A professora explica ainda que a iniciativa brasileira gerou resultados indiretos, além das propostas de manejo estudadas, já que grande parte dos participantes do primeiro edital continuaram pesquisando o tema, assim como ela.
As pesquisas também serviram para aproximar Academia e sociedade. “Outra mudança foi a aproximação com a extensão”, apontou. “A gente tem que pesquisar e contar para o produtor qual é o resultado, ensinar o que a gente chama de práticas amigáveis dos polinizadores. Não é deixar de aplicar o inseticida, mas saber como aplicar, evitando a morte dos polinizadores”.
(Stephani Echalar | CGCom | UEG)