Rodas de conversa, palestras e partilha de vivências caracterizaram o Encontro dos coordenadores e assessores pedagógicos dos 42 câmpus da Universidade Estadual de Goiás (UEG), que ocorreu entre os dias 20 e 22 de janeiro no câmpus Laranjeiras, em Goiânia. A Formação Continuada para Coordenadores e Assessores Pedagógicos foi uma iniciativa da Pró-Reitoria de Graduação (PrG), mas contou com a articulação e o apoio de outras pró-reitorias e coordenações.
“Membros da PrP (Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação) e da PrE (Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis) se sentaram conosco várias tardes para contribuir. Isso porque nós acreditamos que, no que tange às discussões sobre planejamentos pedagógicos, é necessário fazer com que ensino, pesquisa e extensão estejam juntos, sempre”, ponderou, em sua fala de abertura no evento, a professora Maria Olinda Barreto, pró-reitora de Graduação da UEG.
O evento foi pensado como estratégia fundamental à continuidade do projeto de desenvolvimento curricular, endossado e implantado na Universidade, sobretudo, a partir do ano passado. Em 2014, foram discussões intensas, entre as três modalidades de ensino (licenciaturas, bacharelados e cursos tecnólogos), que visaram modificações na estrutura dos currículos dos cursos ofertados na UEG.
Na prática, alguns componentes curriculares passam a ser comuns a todos os cursos da UEG. Dessa forma, estudantes de diferentes graduações, cursando matérias comuns, passam a ter contato com temáticas cruciais à formação humana – e não apenas tecnicista – como os direitos humanos ou a educação ambiental.
No Conselho Acadêmico realizado em novembro do ano passado, foram aprovadas as disciplinas que comporão os Núcleos Comuns, com carga horária de 60 horas. São elas: “Diversidade, Cidadania e Direitos” e “Linguagem, Tecnologias e Produção Textual”. À ocasião, também se definiu que o tema “Sociedade, Ambiente e Sustentabilidade” constituirá um eixo transversal em todos os cursos, cabendo aos Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) estabelecerem a execução da temática.
Construção conjunta
Além da formação humana, as novas matrizes curriculares da UEG priorizam a interdisciplinariedade e a flexibilidade de seus eixos orientadores, numa perspectiva traçada a partir do diálogo entre docentes, corpo gestor e necessidade dos estudantes.
Atendendo a orientação interdisciplinar, outra parte da estrutura curricular será destinada a atividades de núcleo livre. Por meio delas, alunas e alunos vão poder montar, a partir de escolhas próprias e pessoais, os seus percursos curriculares, elegendo disciplinas de outras áreas e de outros câmpus e, dessa maneira, ampliando suas formações a partir de seus interesses extra-curso.
Outro elemento basilar da nova proposta curricular é a adoção da semestralidade para as graduações da UEG. Tal proposta garante o diálogo com as demais universidades do país, que são em sua maior parte semestrais, facilitando os intercâmbios discentes e docentes entre as Instituições de Ensino Superior.
A proposta é de construção curricular conjunta. Os eixos, acima mencionados, foram apresentados, e debatidos, ainda no I Simpósio de Desenvolvimento Curricular, ocorrido em abril do ano passado. Depois disso, as propostas foram discutidas e votadas ao longo de 2014, em eventos como os diversos Fóruns de Modalidade, Fóruns de Curso, bem como em sessões do Conselho Acadêmico ou do Conselho Universitário.
Em 2015, a ideia é dar prosseguimento a essa perspectiva dialógica e, por isso, os coordenadores e assessores pedagógicos se encontraram na semana passada. A estimativa foi a de pensar os Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) a partir da nova matriz curricular.
“A Formação Continuada para Coordenadores e Assessores Pedagógicos traz para o centro da discussão a valorização pedagógica de cada câmpus, mas em consonância com esse novo contexto da UEG, que é o desenvolvimento curricular. A chancela integral dos PPCs (Projetos Pedagógicos dos Cursos) será finalizada até junho de 2015. Enquanto isso, teremos diálogo e acompanhamento desse processo por parte dos coordenadores pedagógicos. Por isso um evento como esse é importante”, explica Leonardo Venícius Parreira Proto, assessor da PrG e um dos coordenadores do evento.
Segundo ele, a Formação visa fornecer indicativos para as ações dos coordenadores pedagógicos. “Com esses indicativos e com os debates ocorridos aqui, nas dinâmicas propostas, eles vão poder fazer uma boa proposta de planejamento para os câmpus, que terão seus planos definidos na primeira semana de fevereiro”, finalizou Proto.
A dinâmica de trabalho consistiu em rodas de conversa. Os participantes foram envolvidos em quatro grupos que discutiram oito temáticas: desenvolvimento curricular; estágio supervisionado; atividades complementares; núcleo docente estruturante; semipresencialidade; extensão, pesquisa e prática curricular.
Um documento com a sistematização do que foi discutido em cada roda de conversa será produzido pela Pró-Reitoria de Graduação e enviado, até o mês de março, aos diversos câmpus.
Muito além de simples conteúdos
A palestra de abertura do encontro foi proferida pelo professor Sebastião Donizete Carvalho, que tem doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e é professor efetivo da rede estadual de ensino em Goiás, além de ser membro do Conselho Estadual de Educação. Em sua abordagem, ele priorizou o percurso curricular como ferramenta e estratégia transformadora.
“O currículo constrói identidades e subjetividades, uma vez que junto com os conteúdos repassados se adquirem os valores e os pensamentos de uma época”, comentou o educador, ao abordar que o 'desenvolvimento curricular' vai muito além de uma visão meramente conteudística da educação.
Sobre o evento de formação continuada, proposto aos docentes, o professor endossou: “aqui vivenciamos o processo de construir em conjunto, em diálogo, aquilo que aparentemente está desordenado. Isso é currículo”, disse ele.
Donizete ainda endossou que as propostas curriculares não podem ser endurecidas e engessadas. Como elas são fluidas, há a aparência, apenas fictícia, de desordem. Segundo ele, um currículo deve ser aberto o suficiente para abranger o dinamismo de seres humanos em formação. “Vale dizer que a experiência de escolarização e o trajeto de desenvolvimento de cada aluno são únicos e irrepetíveis. A Instituição Educativa tem de reconhecer isso, recebendo os alunos em sua complexidade”, finalizou o estudioso.
(CGCom| UEG)