Pesquisa realizada na UEG traz o potencial do bambu para construção civil. A planta pode ser matéria-prima para estruturas baratas e duráveis. Casas populares são beneficiadas pela pesquisa
Bambus no lugar de tijolos e habitações mais baratas construídas em uma perspectiva sustentável. Essas são as premissas que marcaram a trajetória acadêmica da professora doutora em Arquitetura e Urbanismo Anelizabete Alves Teixeira. O interesse pelo uso de materiais alternativos em construções civis começou na graduação e levou a professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG) a elaborar pesquisa pioneira na aplicabilidade dos bambus como opção estrutural em edificações populares.
A tese de doutorado da professora do câmpus de Ciências Exatas e Tecnológicas - “Desempenho de painéis de bambu argamassados para habitações econômicas: aplicação na arquitetura e ensaios de durabilidade” - é um desmembramento de pesquisas que se iniciaram em seu trabalho de conclusão de curso e passaram pelo mestrado. O objetivo da tese foi desenvolver uma tecnologia capaz de criar painéis de vedação, que seriam as paredes de uma construção, com uma argamassa com aderência adequada, além de investigar a questão da durabilidade desses painéis.
“Na Colômbia e na Costa Rica, países que já utilizam construções com o bambu, percebíamos que a argamassa se soltava das estruturas utilizadas”, revela a professora. Depois de voltar de um congresso na Costa Rica, Anelizabete quis estudar a eficiência desses painéis de bambu.
Para que tijolos?
A pesquisadora explica que a produção desses painéis parte da substituição dos blocos cerâmicos, ou seja, dos tijolos comuns, pelo bambu. Uma estrutura de bambu é então montada e coberta por uma matriz de cimento, uma argamassa. “Existem muitos tipos de painéis de vedação. O que eu fiz foi elaborar uma tecnologia de produção desses painéis. A contribuição do meu trabalho vem no sentido de criar um tratamento desses bambus e avaliar a durabilidade dessas estruturas”, revela.
Para tanto, Anelizabete desenvolveu uma metodologia, por meio de ensaios com um processo de envelhecimento acelerado, para conseguir projetar a vida útil dessas estruturas. Os resultados positivos do trabalho colocaram a tese da professora em destaque no campo da inovação tecnológica na produção e utilização desses painéis de bambu argamassados.
O trabalho teve projeção mundial e foi discutido em congressos internacionais . Além disso, profissionais de todo o Brasil entraram em contato com a professora para falar que estavam colocando em prática a tecnologia elaborada a partir da pesquisa realizada na UEG.
O reconhecimento do trabalho o colocou entre um dos indicados ao Prêmio Capes de Teses 2014. O resultado da premiação deverá ocorrer até o final do mês de julho. Segundo a professora, a projeção foi muito gratificante, uma vez que existem poucos autores e autoras que trabalham esse aspecto específico da construção civil, o que, para ela, é um desperdício do potencial quando se trata da planta.
Muitas espécies nativas,
pouca valorização cultural
Aos olhos de Anelizabete, a pouca utilização do bambu na construção civil é uma questão cultural em nosso País. “O Brasil é o país que apresenta o maior número de espécies nativas de bambus. Para se ter uma ideia, a área de bambus plantados no Acre representa, aproximadamente, a extensão do território da Inglaterra”, revela a pesquisadora.
Ela afirma que do ponto de vista da sustentabilidade os atrativos da planta são muitos: o bambu cresce rápido e sua renovação ocorre em um pequeno intervalo de tempo; ele se adapta com facilidade aos solos e climas de todo o território brasileiro; as plantações não exigem mão de obra especializada; e o beneficiamento do bambu não exige gastos com energia.
Mesmo diante de tais atrativos, o bambu ainda não é utilizado nas construções como opção sustentável. É por isso que a professora leva para a sala de aula seus conhecimentos na área, para despertar nos alunos e alunas da UEG o interesse pelos materiais alternativos.
Moradias sustentáveis na zona rural
A pesquisadora já coordenou projetos de pesquisa que colocam os estudantes da UEG em contato com a utilização dos bambus em habitações econômicas. O que os alunos de Arquitetura e Urbanismo realizam nesses projetos é a avaliação do desempenho dessas edificações. Para além dos projetos de pesquisa, essa interação de seus estudos com a Universidade está prestes a gerar um outro fruto.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) do Distrito Federal se interessou pelo trabalho da estudiosa da UEG e financiou um projeto de extensão, uma parceria entre a UEB e a Universidade de Brasília (UnB). A ideia do projeto “Potencial e Aplicação do Bambu para Edificações Rurais” é levar para a zona rural do Distrito Federal as construções das casas econômicas propostas por Anelizabete em sua tese, utilizando os painéis de bambu que a pesquisadora vem desenvolvendo.
“O projeto está em fase de aprovação aqui na UEG e, se aprovado, no ano que vem poderei levar dois estudantes de Arquitetura e Urbanismo e um de Engenharia Agrícola da UEG, para ter a experiência de colocar em prática meu trabalho”, revela ela. Depois de tantos desmembramentos, a pesquisa de Anelizabete está prestes a mudar a realidade de uma zona rural do Centro Oeste. “O mais importante é poder passar toda minha experiência aos alunos da UEG e ver o que aquela semente plantada lá atrás gerou fortes edificações”, finaliza.
(Alisson Caetano| CGCom| UEG)